Três adversários de Bruno Covas (PSDB) na eleição de 2020 para a prefeitura de São Paulo criticaram, veementemente, as últimas ações da administração municipal contra pessoas em situação de rua.
Primeiro, foi a colocação de pedras embaixo de um viaduto próximo à Avenida Salim Farah Maluf, no Tatuapé, zona leste da cidade, concluída na quinta-feira (28). O objetivo era impedir que moradores de rua dormissem no local.
Depois, equipes da prefeitura apreenderam, nesta quinta-feira (4), colchões, barracas e outros pertences de pessoas em situação de rua.
Para Jilmar Tatto, ex-candidato do PT à prefeitura da capital paulista, as ações da administração municipal são “inadmissíveis, absurdas e estarrecedoras”.
“Uma atitude higienista e insensível. A prefeitura, ao invés de ter uma política de acolhimento, de fazer com que essas pessoas tenham carinho, com tratamento de saúde para aqueles que precisam, inclusive psicológico, com moradia e refeições adequadas, cria dificuldade”, afirma Tatto.
“É totalmente desumano fazer esse tipo de intervenção urbanística, que é justamente para impedir que as pessoas em situação de rua possam ter um local onde não sofram com vento e chuva. Tem que ter política social, no sentido de fazer com que essas pessoas tenham o acolhimento adequado”, destaca.
O ex-candidato do PSOL, Guilherme Boulos, coordenador do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST), demonstrou indignação com a forma pela qual a população em situação de rua é tratada pela gestão Bruno Covas.
“A violência contra os sem-teto não para em São Paulo. Depois das pedras no viaduto, agentes da prefeitura retiraram colchões e barracas das pessoas em situação de rua no Centro da cidade. Absurdo. Pedras para afastar sem-teto, arrancar barracas e colchões, o que mais falta? É higienismo puro da prefeitura de São Paulo”, ressaltou Boulos.
O deputado Orlando Silva, ex-candidato à prefeitura do PCdoB, também deixou registrado seu descontentamento: “Para a população de rua, a solução da prefeitura é um colchão de pedra e um teto de estrelas, quando não chove, claro. É muita falta de empatia, muita desumanidade”.
Descaso
A colocação de pedras embaixo do viaduto provocou reações do padre Julio Lancellotti, que tem um extenso trabalho junto à população em situação de rua na capital paulista. Ele, inclusive, resolveu tomar uma medida prática para ajudar a resolver a questão: pegou uma marreta e começou a retirar as pedras.
“Quando eles perceberam que isso estava gerando muita imagem, chamaram duas escavadeiras e começaram a tirar. Na hora que eu estava lá chegaram as escavadeiras, com cinco caminhões e mais de 30 funcionários, porque estava vindo muita gente fotografando. Ficaram com medo da imagem”, disse o religioso.
Em nota, a prefeitura de São Paulo informou que “a implantação de pedras sob viadutos foi uma decisão isolada, que não faz parte da política de zeladoria da gestão municipal, tanto é que foi imediatamente determinada a remoção”.
Porém, para o padre Julio a versão da gestão de Bruno Covas não é verídica: “Isso [a retirada] foi por causa da repercussão na mídia”, reforçou.
Já Guilherme Boulos divulgou, em suas redes sociais, um vídeo que mostrava equipes da prefeitura removendo colchões, barracas e outros pertencentes de pessoas em situação de rua.
A prefeitura confirmou a medida e afirmou que o Decreto nº 59.246/20 estabelece que a população em situação de rua pode ter objetos pessoais, mas não pode deixá-los em locais públicos.
De acordo com censo feito pela prefeitura em 2019, a capital tem 24.344 moradores de rua. A região da Subprefeitura da Mooca, onde ficam os viadutos que receberam as pedras, concentrava 835 pessoas em situação de rua, ficando atrás apenas da Subprefeitura Sé (7.593).