Em entrevista a Leandro Colon e Matheus Teixeira, na edição desta sexta-feira (19) da Folha de S.Paulo, Luiz Fux, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), revelou o conteúdo de uma mensagem de whatsapp enviada pelo ministro da Defesa, general Fernando Azevedo e Silva, após o general Eduardo Villas Bôas, ex-comandante do Exército, ironizar publicação de Edson Fachin no Twitter.
Na mensagem, lida por Fux aos jornalistas, o ministro de Bolsonaro afirma que "nós não queremos potencializar essa notícia porque na verdade foi declaração isolada do ministro Villas Bôas no momento de fazer sua biografia, não há nenhuma concordância das Forças Armadas em relação a pressão sobre o Supremo".
A "pressão" se deu durante julgamento de um habeas corpus do ex-presidente Lula em 2018. Em recente entrevista publicada no livro “General Villas Bôas, conversa com o comandante”, o militar disse que a publicação foi negociada no alto comando das Forças Armadas. Fux, no entanto, afirma que Azevedo e Silva desmentiu Villas Bôas.
"Pela mensagem que tenho no meu celular, que me foi enviada pelo ministro, após a revelação do livro, o ministro Fernando me disse para não deixar criar uma crise nisso. Ele falou que não houve nenhuma reunião de comando militar para tratar de eventual resultado de julgamento do Supremo para reagir a isso. Vou ler o que me mandou [Fux pega o telefone e começa a ler a mensagem]: 'em todas as minhas notas como ministro da Defesa reafirmo o compromisso das Forças Armadas com a democracia e a Constituição de 1988. As Forças Armadas estão voltadas para o cumprimento das suas obrigações legais'", disse Fux à reportagem.
Recado
A revelação da mensagem de whatsapp por Fux se deu durante entrevista em que o presidente do STF comentou a decisão unânime de manter a prisão de Daniel Silveira pelos ataques aos membros da corte, motivados justamente pela crítica de Fachin à entrevista de Villas Bôas.
Na entrevista, Fux afirmou que ameaças a ministros serão "repugnadas" de maneira coesa pelo plenário do tribunal "venham de onde vierem", em claro recado ao governo e aos militares.
À coluna de Mônica Bergamo, na mesma edição da Folha, outros ministros do STF teriam confirmado que a prisão de Silveira foi um recado aos militares que fazem parte, assim como o deputado, de um mesmo movimento antidemocrático e de ameaça às instituições.
Alforria
Na entrevista, Fux usou um termo escravagista para se referir à prisão de Silveira, em outro recado, dessa vez aos parlamentares, que julgarão nesta sexta-feira (19) em plenário a manutenção ou não da prisão do bolsonarista.
"Eu acho que a sociedade não está preparada para receber uma carta de alforria em favor desse paciente", disse Fux, após relatar que se a Câmara libertar Silveira "estará agindo de acordo com o que a lei permite".
"Agora, a sociedade é leiga, a sociedade não conhece essas minúcias constitucionais. Eu acho que a sociedade tem uma capacidade de julgar imediatamente quando os atos são assim tão graves".
Leia a entrevista na íntegra