Vereadores de Piracicaba rejeitam debate sobre políticas públicas para mulheres: "Puro vitimismo"

Vereador bolsonarista Fabrício Polezi (Patriota) usou Gisele Bündchen como "exemplo de mérito" ao argumentar contra o pedido de audiência pública

Vereador Fabrício Polezi (Patriota)/Reprodução
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Vereadores de Piracicaba, cidade do interior de São Paulo, rejeitaram na segunda-feira (15) um pedido de audiência pública para debater políticas de gênero. A proposta de debate foi apresentada pelas quatro vereadoras da Câmara e deveria acontecer em março.

A proposta havia sido apresentada pelas vereadoras Rai de Almeida (PT), Sílvia Morales, do mandato coletivo A cidade é sua (PV), Alessandra Bellucci (REP) e Ana Pavão (PL). Ao todo, a rejeição obteve 12 votos contra 10.

De acordo com a vereadora Rai de Almeida, em entrevista à Fórum, a audiência reuniria diversos segmentos da sociedade, como movimentos sociais e instituições governamentais. O prefeito de Piracicaba, Luciano Almeida (DEM), também foi convidado.

"O parlamento é o espaço de debate de propostas, de projetos sociais. A negativa é cercear um debate de uma temática que é de suma importância. As mulheres estão em uma situação de extrema desigualdade, de aumento de violência, o número de feminicídio tem aumentado dia a dia, assim como o estupro de crianças", explica a vereadora.

"Além do cerceamento, tem a questão da democracia. Nós estamos em um Estado Democrático de Direito. Ao rigor da questão, nós nem precisaríamos estar apresentando um pedido para fazer uma audiência pública", completou.

Rai de Almeida relata ainda que a principal narrativa adotada pelos vereadores ao se posicionar contra o debate foi a acusação de que gênero é uma questão "ideológica" e de "extrema-esquerda". Outro argumento utilizado foi de que o conceito de "transversalidade", utilizado pelas vereadoras ao defender a audiência, estaria ligado à transexualidade.

Um dos vereadores que votou contra a proposta, o bolsonarista Fabrício Polezi (Patriota), argumentou justamente que a pauta é radical e "puro vitimismo".

"Eu entendo que essa pauta é extremamente ideológica, radical, da extrema-esquerda. Isso não passa de um puro vitimismo. Diminui a grandeza da mulher, tendo em vista que as nossas mulheres aqui de Piracicaba são fantásticas. Diante de todos os aparatos, trabalho, empresa, leis, eu desconheço por completo nessa cidade, que é massivamente cristã, alguma lei que proíba as mulheres de terem as suas vidas sem privações. Portanto, esse propósito de audiência pública rebaixa as mulheres", afirmou na reunião.

Em seguida, Polezi usou a modelo brasileira Gisele Bündchen como exemplo de meritocracia. "Vou citar um exemplo, a Gisele Bündchen. O modelo mais famoso, mais bem pago do mundo, ganha um terço do montante que a Gisele ganha e foi mérito da mulher brasileira", conclui.

De acordo com Rai de Almeida, as vereadoras ainda devem realizar uma nova tentativa de requerimento para viabilizar a audiência pública.

Assista a trecho da votação:

https://www.youtube.com/watch?v=_8taXy9uh4U&feature=youtu.be

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