Pela primeira vez, um ex-integrante da Lava Jato fez comentários sobre o teor dos diálogos vazados e apreendidos na Operação Spoofing. O procurador regional, Orlando Martello, que fazia parte da força-tarefa da operação, enviou e-mails a colegas do Ministério Público Federal (MPF) admitindo que as conversas eram realizadas “em ambiente que se assemelha ao de um botequim”.
Martello diz, ainda, que o Telegram, local onde ocorriam as conversas, era “uma área livre, uma área de descarrego em que expressamos emoção, indignação, protesto, brincadeiras… muitas vezes infantis”. Por isso, segundo ele, os procuradores podem “ter extrapolado muitas vezes”, de acordo com reportagem de Aguirre Talento, em O Globo.
“Sinceramente, não me recordo da grande maioria das mensagens… e digo isso com sinceridade mesmo! Foram tantas mensagens, muitas em finais de semana, em dias festivos, de madrugada [...] Mas não estou aqui para negar as mensagens, mas para dar satisfação”, destaca o e-mail.
“Eram (ou são) os nossos ‘nudes’, uma área em que os pensamentos são externados livremente e sem censura, entre amigos, alguns de mais de décadas. Expostos a terceiros, causa vergonha”, admite.
“Quanto a eventuais comentários que alguém possa se sentir ofendido ou entender inapropriado, favor relevar, pois dito em ambiente que se assemelha ao de um botequim, onde se fala em um monte de bobeiras”, continua o procurador.
Lula
Martello é um velho conhecido dos diálogos revelados pelo The Intercept e, recentemente, encaminhados pela defesa do ex-presidente Lula aos autos da Reclamação 43.007, que tramita no Supremo Tribunal Federal (STF).
Ele sugeriu, por exemplo, que áudios de Lula fossem vazados para os jornalistas se as críticas contra a Lava Jato continuassem a ganhar força.
“Se a escalada continuar, a solução é soltar os áudios, cf sugerido por CF [provavelmente Carlos Fernando dos Santos Lima]. Aí jogamos problema no colo deles, com algumas maldades (pq lula usa cel de terceiros!; proximidade de lula e JW [Jaques Wagner, então ministro da Casa Civil], bem como JW responsável pela nomeação do novo ministro; convocação de deputados; movimentos sociais, etc”, diz um dos áudios.
Martello faz parte do grupo de oito procuradores que tentou barrar o acesso de Lula às mensagens apreendidas na Operação Spoofing, o que foi negado esta semana pela Segunda Turma do STF.