O almirante Antonio Barra Torres, presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), perdeu a paciência com o presidente Jair Bolsonaro (PL). Barra Torres, que já chegou a participar de manifestações e lives ao lado de Bolsonaro, condenou as declarações do presidente contra a vacinação em crianças e contra diretores da Anvisa em entrevista à Folha de S. Paulo.
"Não tenho dúvida que as duas falas [de Bolsonaro] contribuíram sobremaneira para o número aproximado de 170 ameaças [contra os técnicos da Anvisa]. Entendo que isso somou um novo problema gravíssimo, gravíssimo, à questão vacinal no país", declarou Barra Torres em entrevista aos jornalistas Mateus Vargas e Raquel Lopes , da Folha.
Bolsonaro afirmou que não irá vacinar a filha Laura, de 11 anos, e chamou a vacina de "experimental". Antes disso, o mandatário tentou pressionar a agência dizendo que queria os nomes dos diretores que aprovaram a imunização infantil.
"Até porque temos de considerar que em meio a uma série de pessoas que sabem que estão cometendo crime ao fazer a ameaça, existem outras pessoas que não têm o domínio completo de suas faculdades mentais. Que podem ser inimputáveis, à luz da lei, mesmo se cometerem atos violentos. Vamos lembrar o próprio atentado que o senhor presidente sofreu, salvo melhor juízo, praticado por alguém que acabou tendo diagnóstico de doença mental excludente ou atenuante de culpabilidade. Então o estímulo à violência, por menor que seja, é capaz de colocar em movimento forças incontroláveis, para as quais é muito difícil prevenir", completou Barra Torres.
O almirante ainda confirmou que se afastou do presidente, quem nutria uma amizade. "Essa fala [ameaçando expor nomes de funcionários] trouxe dificuldade desnecessária, criou ambiente de insegurança, dificultou o trabalho de enfrentamento da pandemia de sobremaneira. Essa ação acaba por influenciar a relação pessoal", declatou.
"Respeito sempre será mantido. Agora, evidentemente, em face dos últimos acontecimentos, há um distanciamento sim, não poderia ser diferente. Mas nunca houve por parte do presidente nenhum tipo de ação, insinuação, influência, sobre nenhuma das decisões da Anvisa", acrescentou.