Principal cicerone de Sergio Moro no Podemos, o senador Álvaro Dias (PSDB) recebeu doações do doleiro Alberto Youssef, protegido do juiz na Lava Jato, durante a campanha ao parlamento em 1998.
Segundo informações de Felipe Bächtold e Vinicius Konchinski na edição desta quarta-feira (29) da Folha de S.Paulo, duas empresas de Youssef pagaram R$ 21 mil à época - cerca de R$ 81 mil hoje - em horas de voo em um jatinho para Dias, que se elegeu pelo PSDB, antes de migrar para o Podemos.
A ligação de Álvaro Dias e Youssef, que foi um dos primeiros delatores da Lava Jato e tem uma longa relação com Sergio Moro, foi divulgada com ares de escândalo por Jair Bolsonaro (PL) no último dia 12.
No entanto, a história envolvendo Youssef é antiga e faz parte de um intrincado enredo nos bastidores da Lava Jato.
O doleiro foi um dos primeiros delatores da Lava Jato, em 2014, e teve seu acordo homologado por Sérgio Moro. Uma década antes, o juiz também homologou o acordo de delação de Youssef por sua colaboração com as investigações do escândalo do Banestado (o escândalo do Banestado envolveu remessas ilegais de divisas, pelo sistema financeiro público brasileiro, para o exterior, na segunda metade da década de 1990).
Lula disse que Youssef é "amigo de Moro"
Em depoimento à juíza Gabriela Hardt em novembro de 2018 passado, o ex-presidente Lula despertou a ira da magistrada ao se referir a Youssef como “amigo” de Moro. “Eu não sei por que cargas d’água, no caso Petrobras, houve essa questão de jogar suspeita sobre indicações de pessoas. É triste, mas é assim. Possivelmente, por conta de que o delator principal é o (Alberto) Youssef, que era amigo do Moro desde o caso do Banestado (Banco do Estado do Paraná). É isso, lamentavelmente é isso”, disse Lula, na ocasião.
Em 2019, já Ministro da Justiça de Bolsonaro, Moro anulou a punição administrativa imposta ao delegado Maurício Grillo Moscardi, da Lava Jato em Curitiba, que foi condenado pela Corregedoria Geral da Polícia Federal a oito dias de suspensão por ter direcionado a condução de um inquérito interno com o objetivo de abafar o caso sobre o uso de grampos ilegais na cela do doleiro Alberto Youssef dentro da Superintendência da PF em Curitiba.
A confirmação do grampo sem autorização judicial logo no início da Operação Lava Jato, em março de 2014, poderia contaminar todas as investigações que se seguiram, motivo da tentativa de abafar o caso.
Segundo o blog de Marcelo Auler, Sergio Moro influenciou diretamente na primeira sindicância sobre o caso, conduzida por Moscardi, em que “procuradores (da Lava Jato) atipicamente requereram o arquivamento do Inquérito Policial, antes mesmo da realização de diligências básicas e da confecção do relatório final”.
Em depoimento, o próprio Maurício Moscardi diz que o então juiz Sérgio Moro teve acesso a uma sindicância antes dela ser concluída. “O que eu fiz foi, após terminar a sindicância, eu peguei o relatório e encaminhei para a corregedora por e-mail, falando que tinha uma ressalva do doutor Moro, que antes de qualquer coisa que fosse encaminhado para ele dar uma olhada e para o controle externo do Ministério Público Federal”.