Marco Aurélio critica militar no TSE: "Nem na época da exceção isso ocorreu"

General da reserva, Fernando Azevedo e Silva, que foi demitido em março, assume a direção-geral do TSE em 2022 para se antecipar a uma tentativa de golpe de Bolsonaro, que derrete nas pesquisas

Marco Aurélio durante sessão do STF (Foto: Carlos Moura/SCO/STF)
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O ex-presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Marco Aurélio Mello criticou a nomeação do general de reserva Fernand Azevedo para a diretoria-geral da corte eleitoral.

"Nem na época de exceção, no regime militar vivenciado pelo Brasil, isso ocorreu. Sob a minha ótica, talvez equivocada, é negativo. O exemplo frutificará, já que vem de cima? Os [Tribunais] Regionais buscarão assessoria militar", declaro o ministro Marco Aurélio à Folha de S. Paulo.

Para tentar evitar golpe, ex-ministro militar de Bolsonaro assume direção-geral do TSE

Diante do derretimento nas pesquisas, que apontam vitória de Lula (PT) já no primeiro turno, os ministros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) tentam se antecipar a uma tentativa de golpe de Jair Bolsonaro (PL) colocando como diretor-geral da corte o general do Exército Fernando Azevedo e Silva, que foi ministro da Defesa do atual governo até o mês de março.

Azevedo e Silva assume a direção-geral do TSE em fevereiro, quando o ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF) assume a presidência da corte eleitoral no lugar de Luís Roberto Barroso, um dos principais alvos de Bolsonaro.

A iniciativa dos próprios ministros da corte busca antecipar qualquer movimento de Bolsonaro de retormar o discurso golpista sobre fraude eleitoral – a exemplo do que fez seu ídolo, Donald Trump, nos EUA.

Entre as atribuições, o general será o responsável por dar as diretrizes da área de tecnologia, responsável pelas urnas eletrônicas e softwares utilizados nas eleições, que está no centro das teorias conspiratórias propagadas por bolsonaristas.

Demissão do governo


Axevedo e Silva foi demitido do Ministério da Defesa em março deste ano em uma das mudanças feitas por Bolsonaro após pressão do Centrão.

A demissão do general, no entanto, estaria mais ligada à própria insatisfação do presidente.

Azevedo e Silva já havia atuado como assessor especial do Supremo, a convite do ex-presidente da corte Dias Toffoli, e Bolsonaro desconfiava de que o então ministro mantinha contato com os ministros sem que ele soubesse.

O general atuava ainda como uma espécie de bombeiro dos arroubos autoritários de Bolsonaro. Quando o presidente ameaçava o judiciário com um golpe militar, cabia ao então ministro acalmar os ânimos de ministros do STF e a interlocução com o alto comando das Forças Armadas.

Azevedo e Silva sempre buscou manter a cúpula militar distante do governo, o que desagradava Bolsonaro. Esse teria sido o estopim para sua demissão e a nomeação de Walter Braga Netto, que segue à frente da Defesa com um viés mais político.

No TSE, ex-ministro da Bolsonaro defende urnas eletrônicas e afirma que sua eficácia não está em discussão

O general Fernando Azevedo e Silva, que assume a direção-geral do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em fevereiro, declarou em conversa com membros do Instituto para Reforma entre Estado e Empresa (IREE) que ficou surpreso com a logística da corte para as eleições e afirmou que o preparo “é de guerra”.

“Na reunião estavam [o ministro Luís Roberto] Barroso [atual presidente do TSE, Edson Fachin, próximo presidente do TSE a partir de fevereiro, e Alexandre [de Moraes, ministro do STF que assume a presidência do TSE em agosto]. Fiquei um pouco surpreso. Já sabia da magnitude das eleições de 22, mas a logística é impressionante. É uma logística de guerra”, disse o general.

“Você vai ter aproximadamente 577 mil urnas, e esse resultado é apurado no mesmo dia. É uma logística que não é simples. São 148 milhões de eleitores, 2 milhões de mesários em 2022”, declarou Azevedo.

Sobre o fato o aceite ao cargo, o general e ex-ministro da Defesa do governo Bolsonaro afirmou que o fez por se tratar de uma instituição de Estado.

A respeito das urnas eletrônicas, Azevedo falou que a lisura delas não está em discussão.

“Isso é um dado, vai ser ela que vai conduzir a eleição, conforme decidido pelo Congresso. Não tem de se discutir mais, se vai ser ela, se vai ter voto impresso. O Executivo mandou um projeto de lei, foi votado e derrubado”, lembrou.