Maior empresa de serviços no mercado financeiro do mundo, o Citigroup embasou a declaração do ex-presidente Lula, que em entrevista à rádio Gaúcha nesta terça-feira (30) afirmou que a política de paridade internacional de preços da Petrobras, instituída pelo governo golpista de Michel Temer (MDB) e mantida por Jair Bolsonaro (PL), "não tem explicação nenhuma, a não ser pagar dividendos para os acionistas minoritários".
Em relatório apresentado a investidores em Nova York também nesta terça, o Citi afirma que a petrolífira brasileira, que é cobiçada pela política de privatização de Paulo Guedes, "tem capacidade para se tornar uma potência em dividendos". A informação é do jornal Valor Econômico.
“Os aprimoramentos de sua política de dividendos lançam mais luz na estratégia de alocação de capital da Petrobras”, afirmam os analistas Andrés Cardona, Gabriel Barra e Joaquim Alves Atie, do banco.
O "aprimoramento de sua política de dividendos" é justamente parte do plano estratégico da Petrobras, implantada no governo Bolsonaro, que prioriza o lucro de acionistas e mantém empresa como exportadora de óleo cru.
O próprio relatório do Citi afirma que empresa brasileira sinalizou aos acionistas no plano apresentado na semana passada que "á continuidade à tendência introduzida há algum tempo, de concentrar-se principalmente em projetos de exploração e produção de petróleo e gás natural, especialmente no pré-sal, com 67% do investimento (capex) total".
No plano, a diretoria da Petrobras decidiu ainda dobrar a remuneração aos acionistas após alcançar um lucro de R$ 31,8 bilhões apenas no terceiro trimestre de 2021.
“A Petrobras informa que seu Conselho de Administração, em reunião realizada hoje (28/10), aprovou o pagamento de nova antecipação da remuneração aos acionistas relativa ao exercício de 2021, no valor total de R$ 31,8 bilhões (cerca de US$ 6 bilhões), equivalente a R$ 2,437865 bruto por ação preferencial e ordinária em circulação”, disse a estatal em nota publicada no final de outubro.
O Citi tem recomendação de compra para a estatal, com preço-alvo de R$ 37,50 por ação preferencial e de US$ 14 por recibos de ações (ADRs) negociados na bolsa de Nova York.
Lula diz que lucros aos acionistas é "obrigação internacional" de Bolsonaro
Na entrevista, Lula afirmou que o aumento do lucro aos acionistas de Nova York é "uma obrigação internacional” firmada por Jair Bolsonaro.
O petista ainda afirmou que vai acabar com a farra do mercado financeiro em cima da Petrobras caso seja eleito.
"[Bolsonaro] não entende de preços da Petrobras, eu duvido. Qualquer pessoa séria que ganhar as eleições nesse país em 2022 não vai manter essa política de preços de paridade de petróleo. Não é razoável, não é respeitoso com as mulheres e homens desse país”, afirmou.
Para ele, o argumento em defesa da paridade faz parte de um “complexo de vira-lata”.
“Esse argumento é do complexo de vira-lata, de subordinar aos interesses das multinacionais que estavam preparadas para destruir as indústrias do país e tentar ainda fazer um acordo e receber US$ 3 bilhões, uma parte para [Deltan] Dallagnol criar uma fundação. Os acionistas merecem ganhar alguma coisa, mas quem tem que ganhar por conta da Petrobras é o povo brasileiro”, disse o petista.
Negociata com árabes e privatização da Petrobras
A investida do sistema financeiro sobre a Petrobras se dá por causa da sanha de Jair Bolsonaro de se "livrar" da estatal.
“Para mim, o ideal é você ficar livre da Petrobras", declarou o presidente no início de outubro, quando desdenhou dos lucros da estatal que são revertidos ao governo para projetos nas áreas da saúde, da educação e sócio-culturais.
“Pode melhorar na Petrobras? Pode até porque os dividendos, no meu entender, são um absurdo. R$ 31 bilhões em três meses, eu não quero a parte da União tendo esse lucro fantástico”, disse na ocasião.
Petrodólares e venda de refinaria aos árabes
Pouco mais de uma semana após Bolsonaro voltar de uma viagem ao Oriente Médio, a Petrobras concluiu nesta terça-feira (30) a venda da Refinaria Landulpho Alves (RLAM), em São Francisco do Conde, na Bahia, para o fundo árabe Mubadala Capital.
A operação foi fechada com o pagamento de US$ 1,8 bilhão (R$ 10,1 bilhões) para a Petrobras, muito abaixo de estudo de valuation do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep), que mostra que o valor de mercado da RLAM estaria entre R$ 17 bilhões e R$ 21 bilhões.
Antes de iniciar as negociações para a venda, o governo encomendou uma estimativa do valor ao BTG Pactual, banco que foi fundado por Paulo Guedes, que estipulou em uma venda 35% (R$ 5 bilhões) abaixo do mercado, o que daria à refinaria um valor de cerca de R$ 13,9 bilhões. No entanto, a Petrobras jogou o preço para baixo na negociação com os árabes.
A Federação Única dos Petroleiros (FUP) entrou com ações na Justiça para barrar a venda, denunciando o preço irrisório, além da criação de um monopólio regional para distribuição de combustíveis na Bahia.
A Acelen, empresa criada pelo Mubadala Capital para a operação, assumirá nesta quarta-feira a gestão da RLAM, que passa a se chamar Refinaria de Mataripe.