Lira se recusa a dizer quais deputados beneficiados com manobra votaram a favor da PEC dos Precatórios

Proposta defendida pelo governo Bolsonaro foi aprovada em primeira votação por margem estreita após manobras do presidente da Câmara, que estão sendo questionadas no STF

Arthur Lira (Foto: Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados)Créditos: Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados
Escrito en POLÍTICA el

O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), tem se recusado a divulgar quais foram os efeitos de uma das manobras regimentais que encampou na votação da PEC dos Precatórios (PEC 23/2021), aprovada em primeira votação na madrugada da última quinta-feira (4). A matéria ainda precisa passar por análise em segundo turno.

A PEC, que na prática legaliza um calote nas dívidas judiciais e ainda acaba com o teto de gastos, é defendida por Jair Bolsonaro para bancar o programa Auxílio Brasil, que só perdurará até 2022 – ou seja, trata-se de um programa eleitoreiro. A proposta foi aprovada com margem estreita (312 votos, quando o necessário para aprovar eram 308 votos) após Lira permitir que deputados que estavam no exterior para a COP26 votassem.

Com a retomada dos trabalhos presenciais na Câmara, porém, a Mesa Diretora expediu um ato, em 21 de outubro, que determinou que a votação do mérito das matérias em Plenário teria de ser presencial. Ou seja, essa manobra descumpriu uma norma da Casa.

O sistema de divulgação das votações no site da Câmara, no entanto, não especifica quais deputados votaram do exterior. Além disso, a Folha de S. Paulo, por exemplo, informa que entrou em contato com as assessorias de imprensa da Câmara e da presidência da Casa, mas que ambas se recusaram a fornecer essas informações, orientando o jornal a solicitar os dados via Lei de Acesso à Informação (LAI) - que prevê que as informações podem ser repassadas em até 20 dias ou mais, com possibilidade de recurso.

STF suspende emendas

A ministra Rosa Weber, do Supremo Tribunal Federal (STF), suspendeu, em decisão monocrática nesta sexta-feira (5), a execução das emendas parlamentares do chamado “orçamento secreto”, utilizadas por Lira para “comprar” apoio de parlamentares ao governo de Jair Bolsonaro.

As emendas de relator para o Orçamento da União, popularmente chamadas de “orçamento secreto”, seguem um rito diferente de outras emendas, que transitam por um rito rígido, atendendo a critérios específicos, para que haja um equilíbrio e uma equivalência entre todos os parlamentares que compõem a Câmara. A prática, nada mais é do que um acordo informal que permite ao governo, por meio da direção da Casa, liberar recursos bilionários para que deputados passem a apoiar as propostas encaminhadas pelo Executivo ao Legislativo.

A decisão de Rosa Weber atendeu às ações propostas pelo PSOL no STF, que questionava a legalidade e a lisura desse procedimento. A existência de um “orçamento secreto” para saciar a “sede” de políticos do chamado centrão foi revelada em maio deste ano por uma reportagem do diário conservador paulista “O Estado de S.Paulo”, após um episódio de compra de tratores e aparelhos agrícolas superfaturados, com esses recursos, assim como obras com custos acima da realidade, que passaram a ser investigadas pelo Tribunal de Contas da União (TCU).

Nas últimas semanas, essas emendas de relator, que já somam R$ 16,9 bilhões, foram muito utilizadas por Lira para para garantir a aprovação em 1° turno da PEC dos Precatórios, o calote que permitirá ao governo Jair Bolsonaro destinar R$ 63 bilhões para o pagamento do eleitoreiro programa Auxílio Brasil, distribuindo R$ 400 mensais a 17 milhões de famílias até dezembro do ano que vem, quando acontecerá a disputa ao Palácio do Planalto.