Após se lançar pré-candidato à Presidência pelo Podemos, Sergio Moro tenta reescrever a própria história e a ligação umbilical com Jair Bolsonaro (Sem partido) em livro festejado pela mídia liberal.
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Recortes do livro confirmam que o ex-juiz, que aceitou ser "super" ministro da Justiça após influenciar nas eleições de 2018, esperava ser indicado por Bolsonaro para uma cadeira no Supremo Tribunal Federal (STF).
Com a mesma arrogância e prepotência que comandou as condenações na Lava Jato, muitas delas sem provas, Moro diz que "a indicação do meu nome viria naturalmente" ao STF, antes de dizer que "aqui de fato fui ingênuo, admito".
"Evidentemente eu não descartava a possibilidade de ser nomeado pelo presidente no momento oportuno, mas não cabia estabelecer isso como condição para aceitar o cargo de ministro da Justiça e Segurança Pública. […] Eu simplesmente pensei que, naquele momento, demandar a promessa da vaga não era algo honrado a fazer. Além disso, a indicação do meu nome viria naturalmente se eu, como ministro da Justiça, fizesse um bom trabalho (aqui de fato fui ingênuo, admito)", diz em trecho do livro divulgado pela Folha de S.Paulo.
Moro, no entanto, não fala de "ingenuidade" ao se referir sobre as denúncias do sistema de corrupção conhecido como "rachadinhas" em gabinetes do clã Bolsonaro, reveladas antes mesmo da posse, em 2019. Segundo a Folha, no livro, ele diz que "achou as explicações de Bolsonaro satisfatórias e não viu sinal de que ele quisesse obstruir o inquérito".
Sim antes do final das eleições
Moro ainda confirma no livro que aceitou ser ministro de Bolsonaro antes mesmo do segundo turno das eleições. Dias antes do primeiro turno, o ex-juiz levantou sigilo sobre a delação sem provas de Antonio Palloci para tentar prejudicar a candidatura de Fernando Haddad.
“Durante aquele churrasco, que avançou madrugada adentro [antes do segundo turno das eleições, em Curitiba], sinalizei a Paulo Guedes que, se Jair Bolsonaro fosse eleito presidente, eu aceitaria o desafio. Combinamos, entretanto, que a formalização do convite só ocorreria após o segundo turno das eleições para que o fato não tivesse qualquer influência sobre o pleito. Mais um indicativo, aliás, de que jamais pretendi influir na eleição presidencial de 2018”, escreve Moro, com tom de ironia e desfaçatez.
"Confissão de crimes em cascata", diz Ciro Gomes
Pelas redes sociais, Ciro Gomes (PDT), que polariza com Moro a disputa pela terceira colocação nas pesquisas de intenção de votos para 2022, diz que o resumo do livro apresentado pela Folha é uma "confissão de crimes em cascata".
"Confissão de crimes em cascata, cumplicidade, subserviência, oportunismo e cinismo deslavado, são as definições mais civilizadas que se pode fazer sobre o conteúdo do livro de Sérgio Moro", diz Ciro, em uma sequência de tuites publicados nesta terça-feira (30).
Ciro destaca que Moro "admite não ter visto crimes nas rachadinhas nem nas seguidas agressões de Bolsonaro às instituições" e "também não viu problema na enquadrada do general Villas Boas ao Supremo".
"Suas mentiras e contradições explodem quando ele nega acertos para ser indicado para o Supremo, mas candidamente confessa que não 'descartava a possibilidade de ser nomeado pelo presidente no momento oportuno'", diz o pedetista.
"Todos que já conheciam Moro não se surpreenderão com esta podre exposição de motivos, mas é impossível que os demais brasileiros não fiquem chocados com tamanha hipocrisia e falsidade juntas", emenda Ciro, que desafiou Moro para um debate.
"Se esta delação em busca de um prêmio já revira o estômago, imagine o asco que causaria as omissões do muito que não é contado no livro. Por estas e outras, reitero meu convite : 'vamos debater, Moro? Por que se escondes, ex-juiz valentão?'”.