Jornalista veterano, Elio Gaspari afirmou em sua coluna na Folha de S.Paulo neste domingo (21) que a possibilidade do ex-presidente Lula (PT) repetir nos EUA o êxito da viagem que fez à Europa causa um "pesadelo diplomático" no governo Jair Bolsonaro (Sem partido).
"Um pesadelo diplomático assombra o Planalto. É a possibilidade de ele ir aos Estados Unidos no ano que vem", diz Gaspari. "Se Lula se encontrar com metade das vítimas das caneladas do bolsonarismo, repetirá o êxito do périplo europeu", emenda.
O jornalista ventila até uma sugestão ao vice-presidente, o general Hamilton Mourão (PRTB): convidar a vice de Joe Biden, Kamala Harris, para um almoço.
"Poderia explicar-lhe o que deve fazer para continuar viva numa Casa Branca habitada por um presidente cercado por fofoqueiros que não têm o que fazer e, se tivessem, seriam incapazes de enfiar um prego numa barra de sabão", ironiza Gaspari.
Emoção na despedida e capa do El País
O ex-presidente Lula encerrou seu giro pela Europa com o sucesso estampado na capa do El País, principal jornal da Espanha. "Tenho que voltar para recuperar o prestígio do Brasil", diz o trecho da entrevista destacado junto com uma foto do ex-presidente na capa do periódico deste domingo.
Em seu último encontro com lideranças políticas, Lula emocionou a plateia progressista que participou do debate “Construindo o futuro: desafios e alianças populares”, convocado pelo Podemos, principal partido de centro-esquerda do país.
“A luta pela desigualdade tem que ser uma bandeira nossa, da esquerda. A gente pensa em muita coisa, mas às vezes a gente esquece das pessoas que não têm sindicato, que não têm organização, das pessoas que não podem nem fazer protesto. Porque o faminto não faz a revolução. O faminto está fragilizado. E nós que temos que estender a mão para eles. Nós é que temos que ser as pernas deles”, disse Lula - assista aqui.
Lula ainda focou a questão ambiental como pauta prioritária para o campo progressista de todo o mundo.
“Além dessa questão da fome, da desigualdade. Eu saí da cadeia com outra disposição. A questão ambiental não é mais só questão dos ambientalistas. A questão ambiental não é mais do Partido Verde, da classe média sofisticada, intelectual. A questão ambiental é uma questão do povo brasileiro, do povo espanhol, do povo do planeta Terra. Nós só temos ele”, afirmou.
Rever acordo do Mercosul com a União Europeia
Em seu giro pela Europa, onde encontrou chefes de Estado e lideranças políticas, o ex-presidente Lula (PT) prometeu que, caso seja eleito em 2022, vai rever o acordo fechado às pressas por Jair Bolsonaro (Sem partido) e o ministro da Economia, Paulo Guedes, entre o Mercosul e a União Europeia.
Lula avalia que o acordo foi um erro, usado meramente para Bolsonaro apresentar algum fato diplomática seis meses após ser eleito.
“Os parceiros europeus precisam entender que nós devemos exportar produtos acabados que tenham maior valor agregado para que possamos avançar”, disse. “Não queremos apenas exportar soja, milho e minérios“, emendou o ex-presidente.
O tratado, que ainda não passou pela aprovação dos parlamentos europeu e brasileiro, é extremamente danoso ao Brasil, que teria de limitar a exportação de produtos agrícolas. Por outro lado, a Europa teria acesso a setores estratégicos da economia brasileira em compras governamentais, serviços e propriedade intelectual.
Encontro com primeiro-ministro da Espanha encerrou viagem à Europa
Um encontro com o primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez, no Palácio de Moncloa, em Madri, nesta sexta-feira (19) encerrou a viagem de Lula à Europa.
“Espanha e Brasil compartilham fortes laços estruturais e permanentes em diferentes áreas. Hoje, encontrei-me com o seu ex-presidente, @LulaOficial, para tratar de vários assuntos de interesse comum, como a situação da pandemia, as mudanças climáticas e a recuperação econômica”, tuitou Sánchez com fotos com o petista.
A viagem do ex-presidente se tornou um dos principais assuntos políticos da semana. Lula tem mostrado que ainda possui forte prestígio internacional e, inevitavelmente, suas agendas com importantes lideranças políticas têm sido comparadas com o isolamento de Bolsonaro no mundo, especialmente na União Europeia.
Em sua passagem pelo Velho Continente, Lula teve mais encontros com lideranças políticas do que Bolsonaro teve, por exemplo, durante toda a sua passagem por Nova York para a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), ocasião em que, para muitos, o presidente passou vergonha. O ex-mandatário, durante as agendas, não tem economizado críticas ao governo, denunciando o negacionismo do titular do Planalto no âmbito da pandemia, a volta da fome no Brasil e a antipolítica ambiental do chefe do Executivo.
O petista, logo nos primeiros dias de viagem, se reuniu e arrancou elogios do provável futuro chanceler da Alemanha, Olaf Scholz, discursou e foi aplaudido de pé no Parlamento Europeu, tendo se reunido ainda com a vice-presidente da casa legislativa, teve uma recepção calorosa na França, onde foi agraciado com o prêmio Coragem Política, da revista Politique Internationale, e almoçou com a prefeita de Paris, Anne Hidalgo.
Encontro com Macron
O ápice da viagem, no entanto, se deu ao encontrar, para além das lideranças regionais, um chefe de Estado: Emmanuel Macron, presidente da França, que por sinal é desafeto de Bolsonaro. O ex-presidente brasileiro foi recebido com pompa pelo mandatário francês, com direito a honrarias e marcha da Garde Républicaine, protocolo típico utilizado para receber chefes de Estado. Lula ainda tem reunião marcada com o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez.
Enquanto tudo isso acontecia, Bolsonaro passeava com uma grande comitiva nos Emirados Árabes, onde, sem reuniões importantes, chegou a fazer uma “motociata”. Isso pouco depois de ir à Itália e ficar “perdido” no âmbito da reunião do G20.