Em palestra na manhã deste sábado (20) no debate “Construindo o futuro: desafios e alianças populares”, convocado pelo Podemos, o ex-presidente Lula emocionou lideranças progressistas da Espanha ao colocar novamente a desigualdade e a fome no centro da pauta na luta contra a extrema-direita no mundo.
"A luta pela desigualdade tem que ser uma bandeira nossa, da esquerda. A gente pensa em muita coisa, mas às vezes a gente esquece das pessoas que não têm sindicato, que não têm organização, das pessoas que não podem nem fazer protesto. Porque o faminto não faz a revolução. O faminto está fragilizado. E nós que temos que estender a mão para eles. Nós é que temos que ser as pernas deles", disse Lula, a uma plateia emocionada.
Amazônia é brasileira, mas riqueza da biodiversidade tem que ser compartilhada com o mundo
Lula ainda focou a questão ambiental como pauta prioritária para o campo progressista de todo o mundo.
"Além dessa questão da fome, da desigualdade. Eu saí da cadeia com outra disposição. A questão ambiental não é mais só questão dos ambientalistas. A questão ambiental não é mais do Partido Verde, da classe média sofisticada, intelectual. A questão ambiental é uma questão do povo brasileiro, do povo espanhol, do povo do planeta Terra. Nós só temos ele", afirmou.
Lula ainda ironizou as viagens do trilionário Elon Musk, procurado pelo governo Jair Bolsonaro para monitorar a Amazônia com seus satélites, ao espaço.
"Voces já perceberam que os ricos estão gastando milhões para fazer viagens ao espaço? Porque eles querem arrumar um lugarzinho para eles. Eles que são responsáveis pela poluição. Então, nós temos que colocar a questão ambiental na ordem do dia. Não é possível a gente pensar hoje em movimento, em emprego, se a gente não colcoar a questão ambiental dentro desse tema".
Lula então focou na questão da Amazônia, dizendo à plateia espanhola que a riqueza da floresta brasileira tem que ser compartilhada com o mundo.
"A questão da Amazônia, a gente tem que deixar claro que a Amazônia é um território brasileiro, portanto o Brasil é soberano. Agora a riqueza da biodiversidade amazônica tem que ser compartilhada com o mundo".
Lula ainda enfatizou a necessidade de se formar parcerias para pesquisas na floresta para oferecer melhores condições de vida a 25 milhões de pessoas que moram na região amazônica.
"Nós não queremos transformar a Amazônia em um santuário da humanidade. O que nós queremos é explorar cientificamente a riqueza da biodiversidade para dela ver se tira alguma coisa para ajudar o povo brasileiro e o povo do mundo", afirmou.
Assista a íntegra do discurso.
Petista ouve coro "Lula Presidente"
Antes de iniciar sua participação no debate, o petista ouviu o coro “Lula presidente”, em apoio de lideranças de partidos de esquerda, organizações sindicais e políticos progressistas da Europa.
O coro aconteceu após discurso do economista e professor universitário Félix Ovejero, presidente da Confederação Sindical de Comissões Obreras, uma das principais bases sindicais da Espanha.
“É preciso entender que é mais importante o que nos une do que nos separa. A desunião nos leva para fora da agenda. E agora querem nos ver na cadeia, onde levaram Lula. Por isso, gritamos ‘Lula livre’. Agora devemos gritar ‘Lula presidente'”, disse Ovejero, seguido do coro - assista aqui.
Rever acordo do Mercosul com a União Europeia
Em seu giro pela Europa, onde encontrou chefes de Estado e lideranças políticas, o ex-presidente Lula (PT) prometeu que, caso seja eleito em 2022, vai rever o acordo fechado às pressas por Jair Bolsonaro (Sem partido) e o ministro da Economia, Paulo Guedes, entre o Mercosul e a União Europeia.
Lula avalia que o acordo foi um erro, usado meramente para Bolsonaro apresentar algum fato diplomática seis meses após ser eleito.
“Os parceiros europeus precisam entender que nós devemos exportar produtos acabados que tenham maior valor agregado para que possamos avançar”, disse. “Não queremos apenas exportar soja, milho e minérios“, emendou o ex-presidente.
O tratado, que ainda não passou pela aprovação dos parlamentos europeu e brasileiro, é extremamente danoso ao Brasil, que teria de limitar a exportação de produtos agrícolas. Por outro lado, a Europa teria acesso a setores estratégicos da economia brasileira em compras governamentais, serviços e propriedade intelectual.
Encontro com primeiro-ministro da Espanha encerrou viagem à Europa
Um encontro com o primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez, no Palácio de Moncloa, em Madri, nesta sexta-feira (19) encerrou a viagem de Lula à Europa.
“Espanha e Brasil compartilham fortes laços estruturais e permanentes em diferentes áreas. Hoje, encontrei-me com o seu ex-presidente, @LulaOficial, para tratar de vários assuntos de interesse comum, como a situação da pandemia, as mudanças climáticas e a recuperação econômica”, tuitou Sánchez com fotos com o petista.
A viagem do ex-presidente se tornou um dos principais assuntos políticos da semana. Lula tem mostrado que ainda possui forte prestígio internacional e, inevitavelmente, suas agendas com importantes lideranças políticas têm sido comparadas com o isolamento de Bolsonaro no mundo, especialmente na União Europeia.
Em sua passagem pelo Velho Continente, Lula teve mais encontros com lideranças políticas do que Bolsonaro teve, por exemplo, durante toda a sua passagem por Nova York para a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), ocasião em que, para muitos, o presidente passou vergonha. O ex-mandatário, durante as agendas, não tem economizado críticas ao governo, denunciando o negacionismo do titular do Planalto no âmbito da pandemia, a volta da fome no Brasil e a antipolítica ambiental do chefe do Executivo.
O petista, logo nos primeiros dias de viagem, se reuniu e arrancou elogios do provável futuro chanceler da Alemanha, Olaf Scholz, discursou e foi aplaudido de pé no Parlamento Europeu, tendo se reunido ainda com a vice-presidente da casa legislativa, teve uma recepção calorosa na França, onde foi agraciado com o prêmio Coragem Política, da revista Politique Internationale, e almoçou com a prefeita de Paris, Anne Hidalgo.
Encontro com Macron
O ápice da viagem, no entanto, se deu ao encontrar, para além das lideranças regionais, um chefe de Estado: Emmanuel Macron, presidente da França, que por sinal é desafeto de Bolsonaro. O ex-presidente brasileiro foi recebido com pompa pelo mandatário francês, com direito a honrarias e marcha da Garde Républicaine, protocolo típico utilizado para receber chefes de Estado. Lula ainda tem reunião marcada com o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez.
Enquanto tudo isso acontecia, Bolsonaro passeava com uma grande comitiva nos Emirados Árabes, onde, sem reuniões importantes, chegou a fazer uma “motociata”. Isso pouco depois de ir à Itália e ficar “perdido” no âmbito da reunião do G20.