A viagem de Lula (PT) à Europa se tornou um dos principais assuntos políticos da semana. O ex-presidente tem mostrado que ainda possui forte prestígio internacional e, inevitavelmente, suas agendas com importantes lideranças políticas têm sido comparadas com o isolamento do presidente Jair Bolsonaro no mundo, especialmente na União Europeia. Para Ariane Roder, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e especialista em ciência política e relações internacionais, esse movimento do petista deve aumentar seu capital político.
Desde que chegou ao Velho Continente, na última semana, Lula teve mais encontros com lideranças políticas do que Bolsonaro teve, por exemplo, durante toda a sua passagem por Nova York para a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), ocasião em que, para muitos, o presidente passou vergonha. O ex-mandatário, durante as agendas, não tem economizado críticas ao governo, denunciando o negacionismo do titular do Planalto no âmbito da pandemia, a volta da fome no Brasil e a antipolítica ambiental do chefe do Executivo.
O petista, logo nos primeiros dias de viagem, se reuniu e arrancou elogios do provável futuro chanceler da Alemanha, Olaf Scholz, discursou e foi aplaudido de pé no Parlamento Europeu, tendo se reunido ainda com a vice-presidente da casa legislativa, teve uma recepção calorosa na França, onde foi agraciado com o prêmio Coragem Política, da revista Politique Internationale, e almoçou com a prefeita de Paris, Anne Hidalgo.
O ápice da viagem, no entanto, se deu ao encontrar, para além das lideranças regionais, um chefe de Estado: Emmanuel Macron, presidente da França, que por sinal é desafeto de Bolsonaro. O ex-presidente brasileiro foi recebido com pompa pelo mandatário francês, com direito a honrarias e marcha da Garde Républicaine, protocolo típico utilizado para receber chefes de Estado. Lula ainda tem reunião marcada com o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez.
Enquanto tudo isso acontecia, Bolsonaro passeava com uma grande comitiva nos Emirados Árabes, onde, sem reuniões importantes, chegou a fazer uma "motociata". Isso pouco depois de ir à Itália e ficar "perdido" no âmbito da reunião do G20.
Vácuo diplomático
À Fórum, a professora Ariane Roder afirmou que Lula, quando presidente, "foi reconhecido por exercer uma diplomacia ativa", lembrando que o petista protagonizou debates, alianças e coalizões internacionais nas áreas comercial, ambiental e de segurança.
"Agora, de volta a cena política, estrategicamente partiu em busca de ocupar o vácuo diplomático que tem sido deixado pelo governo Bolsonaro nas relações internacionais. Em busca de apoio e alianças com governos alinhados a propostas da social democracia, busca reunir forças contra um movimento conservador de ultra direita que tem ganhado espaços em diversas nações no mundo", avalia a cientista política.
Segundo a professora, o capital político de Lula deve ganhar novo impulso com essa viagem à Europa e, inclusive, influenciar nas próximas eleições. O petista, no momento, lidera todas as pesquisas de intenção de voto para a presidência.
"Na Europa, França e Alemanha já sinalizaram esse apoio, dando palco ao ex-presidente e pré-candidato às eleições de 2022. A tendência é que esse movimento reverbere positivamente nas disputas eleitorais brasileiras ampliando o capital político de Lula ao demonstrar apoios estratégicos relevantes", analisa.
"Enquanto isso, Bolsonaro segue em uma postura internacional não afeta ao diálogo, a cooperação e ao multilateralismo, com emblemáticas ausências, tal como na COP, um dos eventos internacionais mais importantes ocorridos no decorrer de seu governo", afirma ainda a especialista.