A ex-presidenta Dilma Rousseff comentou em entrevista neste sábado (30) sobre o áudio vazado em que o banqueiro André Esteves, do BTG Pactual, revelou como influencia na política brasileira e se gaba de ser consultado por autoridades como Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, e Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara dos Deputados.
Questionada pelo jornalista Leonardo Attuch, do Brasil 247, Dilma comentou sobre as declarações de André Esteves, "representante da Faria Lima", sobre o golpe militar de 1964 e o golpe parlamentar de 2016. "Pelo que eu vi, ele faz a comparação dizendo que nos dois casos foi golpe. Esta é a primeira constatação. Mas o segundo passo no raciocínio é dizer que nos dois casos não houve grandes consequências. É uma visão bastante restrita dos dois acontecimentos", afirmou.
"Em 2016 houve um outro golpe. E este golpe também tem suas vítimas. Hoje, são 20 milhões de brasileiros passando fome no Brasil, um dos países com maior potencial na área de produção de alimentos e proteínas. Tínhamos saído em 2014 do mapa da fome da ONU, agora essa volta vergonhosa à fome e à miséria. Além disso, temos um nível de desemprego nunca antes visto. E a prática deliberada de uma política de preços abusivos com o objetivo de criar um clima que levaria a privatizar a Petrobrás. O absurdo é atrelar o preço dos combustíveis nacionais ao mercado internacional, atrelar os preços internos às variações do especulativo mercado de ativos financeiros de petróleo. Está criada uma situação dramática para as pessoas, que na sua quase totalidade dependem do gás de cozinha para cozinhar no dia a dia. O gás de cozinha que já passou de R$ 110 o botijão, e aqui no Sul já chegou a R$ 120", destrinchou.
A ex-presidenta afirma que a situação atual "é um descalabro com as vítimas de sempre: a esmagadora maioria da população". "As vítimas são os trabalhadores, os pobres, os pretos, as mulheres, as crianças... Embora reconheça que 1964 e 2016 foram golpes, o representante da Faria Lima comete um equívoco absoluto: ele não fala das vítimas", disse Dilma.
"Para ele, as vítimas não são importantes. A maioria do povo brasileiro não é importante. Nisto, mostra algo gravíssimo: a rigorosa falta de sensibilidade da elite. Uma visão de distribuir apenas as migalhas. Segundo eles, não precisa reduzir a desigualdade, basta dar um auxílio, de R$ 400, e isso está muito bom. Com isto eles acham que evitam a revolta e o clamor popular. É uma visão estereotipada. É a visão restrita do financista", destacou.