Cada dia mais alinhado com Jair Bolsonaro, o procurador-geral da República, Augusto Aras, desengavetou um acordo de delação premiada com o advogado Rodrigo Tacla Duran, que atinge frontalmente o ex-ministro Sérgio Moro, quando ele atuou como juiz nos casos relacionados à operação Lava Jato.
Acusado de ser o operador financeiro da Odebrecht, Tacla Duran já disse que negociou propina ao também advogado Carlos Zucolotto, que foi sócio de Rosangela Moro em um escritório jurídico, para obter vantagens em seu acordo de delação premiada com a Lava-Jato em 2016.
Em nota à coluna de Bela Megale, no jornal O Globo, Moro disse que ficou “perplexo” e “indignado” com a decisão de Aras.
“Causa-me perplexidade e indignação que tal investigação, baseada em relato inverídico de suposto lavador profissional de dinheiro, e que já havia sido arquivada em 2018, tenha sido retomada e a ela dado seguimento pela atual gestão da Procuradoria-Geral da República logo após a minha saída, em 22 de abril de 2020, do governo do presidente Jair Bolsonaro”, afirmou Moro em nota.
Os fatos narrados por Tacla Duran, que está foragido na Espanha - país em que tem cidadania -, já foram investigados pela própria PGR e arquivados em 2018, sob a conclusão de que não ficou comprovada a prática de crimes. Mas, Aras decidiu reabrir a investigação.
Segundo o jornal O Globo, um integrante do gabinete do procurador-geral, entretanto, afirma que as tratativas começaram por iniciativa da defesa de Tacla Duran há aproximadamente três meses, portanto antes do rompimento entre Moro e Bolsonaro.
As conversas, porém, avançaram mais recentemente e, no início de maio, foi assinado um termo de confidencialidade para formalizar a fase preliminar das tratativas de acordo.
Amigo da família
Zucolotto é padrinho de casamento e amigo íntimo de Sérgio e Rosângela Moro. A última aparição pública do advogado com o casal aconteceu em novembro passado, quando Moro e a esposa receberam amigos em Curitiba e publicaram fotos nas redes sociais.
Zucolotto é sócio de Rosangela na HZM2 Cursos e Palestras, empresa aberta na esteira da fama conquistada por Moro na atuação da Lava Jato.
Zucolotto apareceu pela primeira vez na mídia em 2017, depois que a Folha revelou que Tacla Duran teria acusado o padrinho de casamento do casal Moro de cobrar propina na Lava Jato.
Em audiência por videoconferência na CPMI da JBS, em maio de 2018, Tacla Durán disse que durante as investigações da Lava Jato procurou Zucolotto, que na época era sócio da esposa de Sergio Moro, que teria pedido US$ 5 milhões para reduzir o valor da indenização a ser paga por ocasião do fechamento de um acordo de delação premiada.
O acordo previa a redução considerável da multa que Duran, que teria de desembolsar a partir de recursos no exterior, a exemplo de outros réus da Lava Jato. E Zucolotto ficaria com cerca de 5 milhões de dólares, pagos “por fora”, por intermediar a negociação.