Exclusivo: Ex-alunos de colégios militares denunciam Bolsonaro por uso de imagem

“A gente se sente marionete de político. É um jogo baixo”, afirma ex-aluna. Estudantes dizem que Bolsonaro faz propaganda enganosa de escolas militares

Jair Bolsonaro durante Cerimônia Comemorativa do Dia do Exército (Reprodução/Agência Brasil)
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A última declaração do presidente Jair Bolsonaro exaltando colégios militares foi, para muitos alunos e ex-alunos, a gota d’água. Jovens de diferentes estados se mobilizaram para denunciar nas redes sociais o que chamam de “falsa propaganda” sobre como o presidente se refere à educação pública que tiveram. Falsa, pois, de acordo com eles, “Bolsonaro não tem nada a ver” com as conquistas dos colégios, muitas delas resultado de dedicação e luta dos próprios estudantes ao longo dos anos. Além disso, rejeitam o uso de suas imagens nas redes sociais do presidente e dizem não apoiá-lo. O que deu início ao levante foi um vídeo que Bolsonaro publicou no Twitter na terça-feira (5) que traz o depoimento de uma aluna de colégio militar que participou, junto com outros estudantes, da 67ª edição do “Harvard Model United Nations” (HMUN), em Boston, nos Estados Unidos. “O 14° Colégio Militar está a caminho. Se tivéssemos recursos construiria pelo menos um em cada Estado”, escreveu o presidente, ao compartilhar o vídeo. https://twitter.com/jairbolsonaro/status/1224984269564661760 Em entrevista à Fórum, ex-alunos de colégios militares de Minas Gerais, Rio de Janeiro e Fortaleza condenaram a publicação, pois enxergam nisso uma tentativa de Bolsonaro se autopromover através de um investimento que já vem de anos dentro do Sistema Colégio Militar do Brasil, além de usar a militarização escolar como resposta ideal para os problemas da educação pública - o que, de acordo com eles, é uma falácia. "O que revolta são essas postagens propagandistas em perfis públicos, expondo a imagem de adolescentes que, muitas vezes, nem concordam com o governo vigente, usando a farda que, em teoria, não poderia ter qualquer vínculo com manifestação política", contou uma ex-aluna do Colégio Militar de Belo Horizonte. “O Sistema Colégio Militar do Brasil na HMUN foi iniciativa dos alunos do Colégio Militar de Brasília, há anos atrás. Como sempre, o exército resolveu institucionalizar o projeto, retirando dos alunos para obter o mérito”, concordou outra ex-aluna da unidade do Rio de Janeiro. Uma outra ex-aluna, dessa vez de Fortaleza, também acredita que a publicação de Bolsonaro é uma tentativa de manipulação. “Isso que ele tenta fazer é uma manipulação com a população, que acaba acreditando que militarizar escolas resolveria nosso déficit educacional”, diz. “Eu chegaria a dizer que o Bolsonaro nos usa como uma cortina de fumaça para esconder que os investimentos na educação pública não são suficientes e efetivos, em uma tentativa de culpar a ‘educação ideológica’ como causador dos péssimos índices educacionais do país”. É comum no discurso do presidente a defesa de que a disciplina e a hierarquia presentes no Sistema Militar são os alicerces dos bons resultados educacionais que os colégios apresentam. Os ex-alunos alertam, no entanto, que o bom rendimento é resultado de um investimento maior por aluno em comparação com outros colégios públicos. A média dos últimos anos mostra que cada aluno de colégio militar custa ao país, no mínimo, três vezes mais do que quem estuda em escola pública regular. “A hierarquia militar, de fato, existe e faz parte da nossa rotina, mas é desonesto querer usar essa pequena característica como um decisor dos nossos resultados”, afirma a ex-aluna do colégio de Fortaleza. “O sucesso acadêmico dos Colégios Militares pouquíssimo se correlaciona à ‘disciplina e hierarquia’ e, às vezes, isso vira até pretexto para certos tipos de opressão dentro do colégio”, opina uma ex-aluna do Colégio Militar de Belo Horizonte. “Eu tive uma experiência incrível e oportunidades que não teria se estivesse em qualquer escola aqui fora, mas isso é fruto do alto investimento estrutural, acadêmico e esportivo em cada aluno, coisa que é pouquíssimo observado em escolas públicas”, finaliza.