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“Acabar com a corrução” é uma das promessas mais conhecidas do discurso de Jair Bolsonaro, e pela qual ele escolheu para o Ministério da Justiça o juiz Sergio Moro, idolatrado pela direita e pela elite brasileira como herói nacional nesse quesito.
Porém, uma reportagem do jornal espanhol El País mostra as decisões do governo liderado por esses dois paladinos da não encaminham o país na direção correta dessa missão, segundo os padrões internacionais de transparência e combate à corrupção. A matéria é baseada em informes de organizações como a Transparência Internacional e a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), também conhecido como o “clube dos países mais ricos do mundo”, ao qual Bolsonaro sonha em inserir o Brasil.
Por exemplo, a OCDE publicou um informe recente, após uma visita à Brasília de um grupo de trabalho sobre o tema da corrupção, realizada em novembro de 2019. O relatório mostra uma grande preocupação dos analistas da entidade com relação ao que acontece no Brasil no que diz respeito ao combate à corrupção.
“Estamos bastante alarmados, porque tudo o que o Brasil havia melhorado nos últimos anos com respeito ao combate à corrução pode ser seriamente comprometido”, afirma um dos trechos do documento produzido pelos analistas OCDE. A missão também reclama que os organismos brasileiros deveriam trabalhar para “reforçar os mecanismos anticorrupção, e não para fragilizá-los”.
A matéria do El País lembra que o Brasil ficou novamente com a pior nota no exame de percepção da corrupção no mundo, difundido pela ONG Transparência Internacional. O país tem apenas 35 pontos nesse ranking, e está no posto 106, de uma lista liderada pela Dinamarca. “Apesar do discurso e das promessas de grande renovação por parte do presidente (Bolsonaro), dos congressistas e dos senadores, 2019 foi um ano péssimo em termos de reformas contra a corrupção”, segundo Bruno Brandão, diretor executivo da entidade no Brasil, em entrevista ao meio espanhol.
Para justificar seu argumento, Brandão lembra das contradições de Bolsonaro, como sua hostilidade contra a imprensa e a sociedade civil, “cuja força é crucial para pressionar em favor do combate à corrupção”, comenta o diretor.
Outro temor bastante claro tanto da Transparência Internacional quanto da OCDE são as manobras de Bolsonaro para proteger seu filho, o senador Flávio Bolsonaro.
No informe da OCDE é citada como exemplo uma decisão tomada pelo presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), ministro Dias Toffoli, que paralisou a investigação contra Flávio. Segundo os analistas, essa medida, além de ser preocupante pelo fato de se tratar de uma possível blindagem ao filho do presidente, ainda teve o poder de limitar outros 900 casos de lavagem de dinheiro, ao cercear a atuação o Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) órgão responsável por fiscalizar esse tipo de operação.
A Transparência Internacional também criticou a decisão do STF. “Isso teve um impacto sistêmico, paralisou praticamente todo o sistema de combate à lavagem de dinheiro durante meio ano”, explicou Bruno Brandão, diretor executivo da entidade no Brasil, em entrevista ao meio espanhol. Ele também recordou que a medida de Toffoli foi derrubada por seus colegas, meses depois.
Segundo Brandão, os três poderes no Brasil têm sido responsáveis por retrocessos graves, e cita as interferências políticas em nomeações e destituições de cargos relacionados à luta contra a corrução como “o pior deste governo”.