Sérgio Cabral, ex-governador do Rio de Janeiro pelo MDB, disse nesta segunda-feira (3) que Luiz Fernando Pezão, seu sucessor, foi parte do esquema de arrecadação de propina liderado por ele, através da Secretaria Estadual de Obras, "desde o primeiro momento do meu governo". Em depoimento a Marcelo Bretas, o juiz responsável pelas ações em primeira instância da Lava Jato no estado, Cabral explicou o funcionamento de um "escritório da propina" montado nos primeiros dias do seu mandato, em 2007.
"Pezão participou da estruturação de benefícios indevidos desde o primeiro instante do nosso governo. Desde a campanha eleitoral que me elegeu governador pela primeira vez, e durante os oito anos em que fui governador. Ele vinha da gestão Rosinha Garotinho, era auxiliar do Garotinho na Secretaria de Governo, havia sido prefeito da cidade de Piraí, no sul fluminense e o chamei para ser meu vice", disse ele. "Assim que vencemos a eleição, o nomeei secretário de Obras e, desde o primeiro momento, tocamos os investimentos em infraestrutura. Ali, estabelecemos a propina da Secretaria de Obras: dos 5% que seriam cobrados, 3% viriam para o meu núcleo, 1% para o núcleo do Pezão", completou.
Segundo Cabral, o esquema começou na administração da família Garotinho. Anthony Garotinho e Rosinha Matheus negam. Cabral e o sucessor, de acordo com o emedebista, diminuíram o valor cobrado das empresas em propina.
Garotinho respondeu via redes sociais: "Seu ressentimento em relação a mim e a Rosinha ficou evidente ao afirmar que 'diminuiu a taxa de corrupção antes praticada'. Se tem alguma prova contra mim, deve entregá-la ao Ministério Público, como fiz em relação a ele seus comparsas. Não respondo a nenhum processo na Lava Jato, apenas ações movidas pela Justiça de Campos, por perseguições de grupos locais".
No mesmo depoimento, Cabral disse também que Pezão foi o criador da chamada "taxa de oxigênio", mas que esta propina estava englobada nos 5% cobrados.
"Pezão estabeleceu isso porque dizia que tinha que abastecer as subsecretarias dele", contou.
O ex-governador afirmou ainda que só foi saber da "taxa de oxigênio" pela imprensa: "Me surpreende muito nos depoimentos o ex-governador dizer que eu fui o criador dessa taxa".
Além disso, segundo Cabral, Pezão recebia uma mesada de R$ 150 mil. "Recebeu durante os 8 anos os pagamentos extras."
O político ainda revelou que recebia uma mesada de R$ 500 mil da Fetranspor. Além disso, Pezão teria recebido R$ 30 milhões só da Fetranspor para a campanha a sucessão.
"Foram R$ 30 milhões para o governador Pezão para sua estrutura [de campanha] e R$ 8 milhões para meus deputados a quem eu tinha interesse de ajudar. Quando chegou em 2015, Pezão me procurou para me ajudar financeiramente, ele se ofereceu. (...) A campanha dele chegou a R$ 400 milhões, então teve sobra de caixa e ele me ofereceu. Essa situação [do repasse de Pezão a Cabral, de R$ 500 mil] ficou 4, 5 meses em 2015", declarou.
O ex-governador negou as denúncias. Ele disse ao G1 que, em depoimento, empresários negam as denúncias feitas por Cabral e Miranda. "Na acareação, o Miranda - que tinha apontado R$ 40 milhões - fala em R$ 25 milhões. Não é verdade. Nenhum empresário confirma o que ele está dizendo", afirmou ele.