O ex-ministro e ex-presidente do PT, José Dirceu, fez uma análise de conjuntura política, nesta segunda-feira (7), em que projeta a derrota de Jair Bolsonaro em 2022.
O pestista analisa, ainda, que a grande disputa na próxima eleição presidencial se dará entre três frentes: a direita liberal, a extrema-direita bolsonarista e a esquerda.
"Na minha avaliação, Bolsonaro perde a eleição. A não ser que tenha algo que obrigue a elite do país a ir com ele. Mas acredito que o centrão não persista em mantê-lo. A tendência é uma disputa entre a direita liberal, o bolsonarismo e a esquerda", pontuou Dirceu. A avaliação foi feita em uma live promovida pela Carta Capital que contou também com a participação dos deputados Marcelo Freixo (PSOL-RJ) e Jandira Feghali (PCdoB), além de Antônio Neto, presidente do PDT em São Paulo.
Segundo Dirceu, "Bolsonaro está pensando só na eleição e não vai aceitar o que os liberais querem fazer" e, por isso, a direita encontrará uma candidatura de centro que tem fortes chances de ir ao segundo turno, o que seria um "problema para a esquerda".
Para o líder petista, o maior desafio, neste momento, é que os partidos de esquerda se unam em uma aliança contra a direita liberal e o bolsonarismo.
"Temos que construir isso para 22. Mas já em 21 (...) 21 vai ser um ano de crise. Nós somos a força que pode conduzir um processo de enfrentamento. Não há nada mais importante do que trabalhar pela unidade de nossos partidos", analisou o ex-ministro, apontando também o que chama de "erros" do PT e a necessidade do partido renovar a linguagem já que, segundo ele, a legenda ainda estaria na "era analógica".
Já Antônio Neto, do PDT, concordou que a esquerda deve se unir em uma grande frente contra o bolsonarismo, mas pontuou que esta união deve se dar em torno de um projeto de país para, só depois, ser apontado um candidato para esse projeto. Segundo o pedetista, esse projeto pode e deve atrair até mesmo parte do centro e da centro-direita.
"O que nós estamos errando é que a gente não tem um projeto. Não temos um projeto nacional. Precisamos trabalhar um projeto, e a partir de um projeto reunir as forças. Sejam elas de centro, centro-esquerda, centro-direita e parte da própria direita. Normalmente estamos sendo escolhidos para ir para o segundo turno e perder", opinou.
"Essa discussão é importante para estabelecer um projeto e formar um arco de alianças. Agora é hora da maturidade", completou o pedetista, citando a frente formada para a eleição de Lula, em 2002e depois as reeleições petistas, que reuniam partidos de centro-direita e esquerda.
Marcelo Freixo foi na mesma linha de Neto e Dirceu, mas ponderou que a esquerda não deve ficar procurando um nome que atraia o centrão para a formação de uma frente pois, desta maneira, correrá o risco de não estar no segundo turno em 2022.
"Nossas alianças não podem ser só eleitorais, têm que ser de um projeto de país e tem que acontecer em 2021. Uma aliança para a sociedade. Claro que o que vai ditar essa aliança é uma agenda anti-bolsonarista. Mas se ficarmos disputando quem da esquerda é capaz de trazer o centro, desculpa, mas a tendência é que alguém do centro vá para o segundo turno sem a esquerda", frisou.
"O dever de casa da esquerda é fazer com que exista um projeto de país consolidado entre nós. Temos um ano para provocar diálogos permanentes para chegarmos em 22 com um projeto, não disputas de personalidade. Que dispute setores do centro. Se verem que é melhor, eles [o centro] virão", arrematou o psolista.
Para Jandira Feghali, a eleição municipal deste ano mostrou que o discurso anti-política que elegeu Bolsonaro em 2018 foi derrotado e que, apesar de algumas derrotas, a esquerda se mostrou "resiliente", o que pode indicar um movimento positivo para os próximos anos.
"Tivemos resultados importantes em cidades importantes. Considero que não houve uma derrota estrondosa da esquerda, teve renovação de lideranças, expressões importantes, diferentemente do que aconteceu em 2016. Bolsonaro foi claramente derrotado mas temos que reconhecer que centro e centro-direita ocupam um cenário diferenciado que aponta uma preocupação nossa pra 2022. Por isso temos que ter responsabilidade como campo político olhando para 22. Há um deslocamento do eleitor para centro e centro-direita mais há uma resiliência no nosso campo", considerou a comunista.
Assista à íntegra da conversa.