Youtubers bolsonaristas ganham mais de R$ 100 mil por mês com informações privilegiadas do Planalto

Reportagem do Estadão teve acesso a inquérito do STF, que mostra elos do gabinete do ódio com a Secom e como eles têm acesso a áreas às quais a imprensa não pode chegar

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Uma rede de youtubers e blogueiros bolsonaristas investigada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) chega a faturar mais de R$ 100 mil por mês. Entre as publicações feitas por esses canais e sites, há informações privilegiadas que eles recebem do Palácio do Planalto. Os dados constam do inquérito aberto em abril pelo STF para investigar atos antidemocráticos e foram obtidos pelo Estadão, que os publicou nesta sexta-feira (4).

A investigação mostra os elos do chamado “gabinete do ódio” com a Secretaria de Comunicação da Presidência (Secom). Esse grupo trabalha a poucos metros da sala de Jair Bolsonaro (sem partido) e seria capitaneado, de acordo com as informações, pelo assessor especial da Presidência Tércio Arnaud Tomaz. Ele seria responsável por passar informações, por exemplo, ao blogueiro Allan dos Santos, do canal Terça Livre. Também alvo do inquérito, Santos atualmente mora nos Estados Unidos, onde continua a comandar o site.

As informações e vídeos que os canais bolsonaristas recebem são passadas, entre outros, por Arnaud Tomaz. Segundo o inquérito, ele mesmo admitiu em depoimento à Polícia Federal que repassa vídeos do presidente e participa de grupo de WhatsApp com os blogueiros para “discutir questões do governo”.

A investigação é comandada no STF pelo ministro Alexandre de Moraes.

O próprio Bolsonaro não é alvo do inquérito. No entanto, seu filho Carlos é citado 43 vezes em depoimentos de testemunhas e investigados. Ele foi ouvido pela Polícia Federal em 10 de setembro.  E disse que nunca utilizou verba pública para manter canais e perfis em redes sociais, nem é “covarde” ou “canalha” para contratar “robôs”.

Outros canais

Na teia dos blogs e canais defensores do presidente e detratores de seus adversários, aparece o Foco do Brasil, de Anderson Rossi. Ele disse receber vídeos de Arnaud Tomaz. Os vídeos com mais acesso do canal são feitos em áreas internas da residência oficial em que Bolsonaro conversa com apoiadores, longe do espaço reservado à imprensa. Com 2,3 milhões de seguidores no YouTube, conseguiu faturar com a monetização do canal US$ 330.887,08 entre março de 2019 e maio de 2020, o equivalente a R$ 1,7 milhão na cotação atual de câmbio.

Outros canais citados no inquérito, segundo a publicação, são: Vlog do Lisboa, de Fernando Lisboa, que fatura de R$ 20 mil a R$ 30 mil por mês, Professor Opressor, de Emerson Teixeira, com rendimento mensal de R$ 11 mil, e Folha Política, de Ernani Fernandes Barbosa e Thaís Raposo, com ganhos no YouTube de R$ 50 mil a R$ 100 mil por mês. Esse último já teve 68 páginas e 43 contas derrubadas pelo Facebook por publicar notícias falsas e violar termos de uso da rede social.

O inquérito mira ao todo 11 canais, incluindo também o Direto aos Fatos, de Camila Abdo, e o TV Direita News, de Marcelo Frazão. A investigação foca na disseminação de conteúdo contra STF e Congresso.

A Secom

Depois que o Estadão publicou a matéria, a Secom enviou nota ao jornal, dizendo que está prestando “todos os esclarecimentos” ao STF e à Polícia Federal. O texto diz: “Temos convicção que todos os fatos serão esclarecidos em nome da mesma democracia que tanto nos acusam de desrespeitá-la. A verdade vencerá”.

Leia a reportagem completa do Estadão aqui.

E a nota da Secom nesse outro link.