Fernando Gabeira, jornalista, escritor e comentarista político da GloboNews, é mais um arrependido, que admitiu o grande erro de análise que foi não perceber o “desastre” que Jair Bolsonaro representaria para o país.
Em artigo publicado nesta segunda-feira (21), em O Globo, Gabeira reconheceu que “subestimou o perigo de Bolsonaro em 2018”.
“Percebo agora como subestimei o perigo que Bolsonaro representava em 2018. Calculava apenas a ameaça à democracia e contava com os clássicos contrapesos institucionais: STF e Congresso, imprensa. Não imaginei que um presidente poderia enfrentar uma tragédia como o coronavírus ou precipitar dramaticamente a tragédia anunciada pelo aquecimento global”, afirmou.
“Os Estados Unidos passaram por um flagelo semelhante e o superaram, apesar das marcas. A versão tropical é mais devastadora, não só pela profundidade da ignorância de Bolsonaro, mas também pelas circunstâncias”, destacou.
O jornalista também abordou a questão da vacina e como o governo brasileiro vem conduzindo o processo de imunização da população.
Cadeia
“Atrasar por razões políticas uma vacina que possa salvar vidas dá cadeia. É importante que os militares da Anvisa saibam disso. O próprio general Pazuello também deveria entender. Se for difícil para ele, sempre haverá alma caridosa para explicar com desenhos e animação”, acrescentou.
Para finalizar, Gabeira voltou a falar do comportamento de Bolsonaro e sua equipe: “Não tenho dúvidas de que também vamos acordar do pesadelo. Mas uma importante tarefa, assim como aconteceu com uma geração de intelectuais alemães no pós-guerra, será estudar as causas disso tudo: as raízes no imaginário nacional que nos tornam tão vulneráveis à barbárie, tão seduzidos pelo discurso da estupidez”.
“Virar a mesa”
Antes das eleições presidenciais de 2018, Gabeira chegou a elogiar Bolsonaro. Em entrevista à IstoÉ, publicada em novembro daquele ano, o escritor afirmou: “Bolsonaro representa uma forma de virar a mesa”.
Em outra entrevista, para o site InfoMoney, o escritor e jornalista foi mais além: “Eu tenho uma convivência com ele de 16 anos. Eu estou acostumado a discutir com ele em muitas circunstâncias, então eu tenho uma tática para lidar com o Bolsonaro diferente da tática que eles optaram. Eu tenho uma tática de tentar entendê-lo, não só por ele, pela amizade que possa existir entre nós, mas pelo fato dele representar uma parte da população considerável”.