O presidente Jair Bolsonaro (Sem Partido-RJ) fez uma reunião, no dia 25 de agosto deste ano, fora da agenda, no Palácio do Planalto ,com as duas advogadas, Luciana Pires e Juliana Bierrembach, que representam seu filho, o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) no caso das "rachadinhas" de Fabrício Queiroz. Flávio não compareceu porque estava com Covid-19.
Além das advogadas, o presidente convocou o general Augusto Heleno, chefe do Gabinete de Segurança Institucional, o GSI, e Alexandre Ramagem, o diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência, a Abin.
Após o encontro, dois relatórios clandestinos que teriam sido produzidos dentro da Abin com orientações sobre as ofensivas necessárias para anular as provas do Caso Queiroz haviam sido encaminhados a Flávio Bolsonaro via WhatsApp, um no dia 20 de setembro e outro em 8 de outubro. Logo a seguir, os documentos informais foram repassados para as advogadas do senador.
De acordo com a revista Crusoé, que teve acesso às duas mensagens, o material clandestino foi enviado diretamente pelo próprio diretor-geral da Abin, Alexandre Ramagem, ao filho 01 de Bolsonaro.
O procurador-geral da República, Augusto Aras, reconheceu a gravidade do episódio, mas afirmou que “precisaria ser provado”. O caso demonstra como funciona a estrutura paralela, o tal “sistema particular de informações” montado por Bolsonaro na Abin. E, sobretudo, como funciona a ação forjada no interior da agência de inteligência para ajudar a defesa de Flávio Bolsonaro.
Ramagem sabia que não poderia se valer dos trâmites oficiais do órgão para ajudar na defesa de Flávio. Por conta disso, segundo servidores concursados do órgão, montou o que eles chamam de “a central bolsonarista da Abin”, criada extraoficialmente e alheia ao procedimento padrão da agência para “levantar antecedentes” e “montar dossiês” a pedidos expressos do governo.
A estrutura, que funciona dentro da própria Abin, foi batizada de Coordenação-geral de Credenciamento de Segurança e Análise de Segurança Corporativa e tem como chefe o agente da PF Marcelo Bormevet, que integrou junto com Ramagem a equipe de segurança de Bolsonaro durante a campanha de 2018. Bormevet é chamado dentro da Abin de “homem do capitão”.
A partir de então foi criada uma “Abin paralela”, fato denunciado pelo ex-ministro Gustavo Bebianno em março de 2019, um ano antes de morrer de um mal súbito. Bebianno afirmou, na época, que o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) apareceu com os nomes de “um delegado federal e três agentes” para compor o aparato. Bebianno e o general Santos Cruz, secretário de Governo demitido, teriam alertado Bolsonaro de que a ideia poderia levar ao impeachment do presidente.
Carlos Bolsonaro emplacou Ramagem no comando da Abin, em junho de 2019, cuja nomeação para diretor-geral da Polícia Federal havia sido barrada pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF, por “desvio de finalidade”.
Em setembro, Ramagem nomeou o agente da PF Marcelo Bormevet, o “homem do capitão”, para trabalhar com ele em Brasília. No mesmo dia, a pedido de Ramagem, o Ministério da Justiça efetivou a requisição do agente Flávio Antônio Gomes para ser o superintendente da Abin em São Paulo.
Neste ano, a pasta também efetivou a ida do papiloscopista da PF João Paulo Dondelli para trabalhar na Presidência da República. Hoje, Dondelli é diretor do Departamento de Projetos Especiais do Ministério das Comunicações.
No final das contas, estava reunida, desta vez em uma “Abin paralela”, a “Equipe Messias”, como foi batizada durante as eleições de 2018 a escolta do então candidato a presidente Jair Messias Bolsonaro.
Com informações da revista Crusoé