Marilena Chaui declara apoio ao Coletivo + Direito à Cidade

Candidatura coletiva que reúne ativistas, gestores públicos e lideranças comunitárias será representada na urna pelo arquiteto e urbanista Nabil Bonduki (PT); confira o texto de apoio da filósofa ao coletivo

A filósofa Marilena Chaui
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A filósofa e escritora Marilena Chaui, professora emérita de Filosofia Política e Estética da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP), anunciou nesta terça-feira (6) que apoiará a candidatura do Coletivo + Direito à Cidade à Câmara Municipal de São Paulo.

Trata-se de uma candidatura coletiva à vereança da capital paulista, que será representada nas urnas pelo arquiteto e urbanista Nabil Bonduki. Além de Nabil, integram o coletivo a socióloga feminista Anabela Gonçalves, o professor da rede pública e privada e ex-vereador Beto Custódio, a assistente social e liderança do movimento de moradia Evaniza Rodrigues, o gestor e produtor cultural e militante negro e LGBTQI+ Gil Marçal, a ativista dos Direitos Humanos de Criança e Adolescente Iracema Araújo e a arquiteta Rayssa Cortez, militante de agenda urbana, como direitos à água e ao saneamento básico.

"Ao trazer como centro de sua proposta política o direito à cidade, o Coletivo + Direito à Cidade não apenas inova a concepção do mandato parlamentar – que deixa de ser atividade individual para ser tornar social –, mas também se ergue contra o que se passa no Brasil e recupera a tradição de esquerda do enraizamento político nas lutas sociais e populares da cidade de São Paulo por direitos, isto é, por uma cidade democrática", escreveu Marilena Chaui em sua carta de apoio ao grupo.

O Coletivo + Direito a Cidade, em suas páginas nas redes sociais, informa que o mandato do grupo será em defesa do "Direito à Cidade, ou seja, o direito à educação, à habitação, à cultura, à mobilidade, à saúde, ao meio ambiente saudável, ao trabalho e as oportunidades. Defendemos os direitos humanos, das mulheres, das crianças e adolescentes, dos idosos, dos LGBTQI+, da pessoa com deficiência. Combatemos a desigualdade e a segregação, o racismo, o machismo, a homofobia, o sexismo e a intolerância".

Confira, abaixo, a íntegra da declaração de apoio de Marilena Chaui ao coletivo.

Estamos acostumados a aceitar a definição liberal da democracia como regime da lei e da ordem para a garantia das liberdades individuais. Visto que o pensamento e a prática liberais identificam liberdade e competição, essa definição da democracia significa que a liberdade se reduz à competição econômica da chamada “livre iniciativa” e, embora a democracia apareça justificada como “valor” ou como “bem”, é encarada, de fato, pelo critério da eficácia, medida pela atividade de uma elite de técnicos aos quais cabe a direção do Estado. A democracia é reduzida a um regime político eficaz.

Na verdade, porém, o coração da democracia, o que lhe dá sentido, é a criação e conservação de direitos, exigidos por contrapoderes sociais organizados. A democracia não é um regime político e sim a forma da própria sociedade, a sociedade democrática, que institui, garante, conserva e cria direitos.

Ora, a sociedade brasileira é autoritária, hieráquica, excludente, cindida entre as carências das classes populares e os privilégios da classe dominante, situação agravada com a implantação do neoliberalismo, que retira os fundos públicos dos serviços e direitos sociais e os destina ao capital. A isto, é preciso acrescentar a ação do governo federal na destruição de direitos conquistados e na perseguição miliciana de ódio aos movimentos sociais e populares.

Ao trazer como centro de sua proposta política o direito à cidade, o Coletivo + Direito à Cidade não apenas inova a concepção do mandato parlamentar – que deixa de ser atividade individual para ser tornar social –, mas também se ergue contra o que se passa no Brasil e recupera a tradição de esquerda do enraizamento político nas lutas sociais e populares da cidade de São Paulo por direitos, isto é, por uma cidade democrática.

Todo o nosso apoio ao Coletivo + Direito à Cidade nas eleições municipais de 2020.

Marilena Chaui
(Filósofa, professora emérita da FFLCH-USP)