Exclusivo: Prefeito de Diadema obriga funcionários da Saúde a fazer campanha a candidato do DEM

Em áudios ao secretário de Saúde, Lauro Michels diz que "comissionados" têm que pedir voto na rua e "carregar bandeira". Sindicato prepara denúncia no MP

Prefeito de Diadema, Lauro Michels (Divulgação)
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O prefeito de Diadema, Lauro Michels (PV), teria enviado áudios a seu secretário de Saúde, Luiz Cláudio Sartori, cobrando a presença dele e de sua equipe, em especial diretores de Unidades Básicas de Saúde (UBS), na campanha da chapa do PV à prefeitura da cidade.

O PV lançou a ex-deputada estadual Regina Gonçalves como vice na chapa de Pretinho (DEM) na disputa eleitoral deste ano. A dupla também tem apoio do Podemos, Cidadania e Pros.

Em áudios que circulam em grupos de WhatsApp de servidores da área da Saúde em Diadema, Lauro demonstra preocupação pela falta de engajamento na campanha por parte dos servidores e diz que Cláudio precisa mobilizar funcionários comissionados a ir “para a rua” pedir voto pela chapa.

“Cláudio, o negócio é o seguinte, cara. Eu preciso da força dos comissionados seus na campanha do Pretinho, irmão. A gente entende que todo mundo é técnico, todo mundo faz um trabalho, mas só estamos aqui por causa da porra da política”, teria afirmado Lauro, em mensagem ao secretário.

“Nós temos aí 21 gerentes de unidade que, se marcar, não sabem quem é o meu candidato. Essas gerentes todas estão aí porque nós nomeamos, não estão nomeadas lá por mérito único delas. Não vai ninguém embora para casa cinco da tarde, vai todo mundo pra rua pedir voto pro Pretinho e pra Regina”, continua.

No segundo áudio, Lauro demonstra uma urgência ainda maior com a presença da equipe do secretário na campanha e lista as atividades que os gerentes de UBS poderiam fazer para ajudar a pedir voto.

“Claudinho, pelo amor de Deus, organize essa sua equipe aí, eu quero volume da Saúde na campanha do Pretinho e da Regina. Terça-feira já tem atividade de rua 17h. Já tem atividade de rua todo dia com Pretinho e com a Regina que esse grupo vai ter que ir, e de finais de semana também”, afirma.

“Se não sabe pedir voto, vai carregar bandeira e, se não sabe carregar bandeira, vai carregar papel. Se não sabe carregar papel, vai limpar banheiro e, se não sabe limpar banheiro, meu amigo, aí a gente vai ter que ver o que vai fazer. Pode chamar as 21 gerentes da UBS, eu quero todo esse povo na rua pedindo voto pro Pretinho, tudo voto em comissão. Sinto muito, eu preciso de todo mundo, ‘se vira nos 30’, irmão. Vamos agilizar que eu preciso de força, cara”, completa o prefeito.

Questionado pela Fórum sobre a suposta conversa com Luiz Cláudio Sartori, o prefeito Lauro Michels diz que "não reconhece" os áudios que estão sendo divulgados. Ele confirma, no entanto, que vem solicitando apoio à campanha de Pretinho para "todas as pessoas" de seu convívio.

"Não reconheço estes áudios que estão sendo divulgados. Em que pese se tratar de um áudio supostamente fake, em momento algum nos meus 16 anos de vida pública, e no áudio em questão, tratei as pessoas com constrangimento, pois sempre conquistei o apoio com respeito", afirma.

"Eu venho solicitando apoio a campanha do Rivelino Teixeira, o Pretinho, para todas as pessoas do meu convívio, o que é legitimo e faz parte da democracia", finaliza.

Denúncia no Ministério Público

Ao contrário do que o prefeito supostamente diz nas mensagens, de que espera o apoio de funcionários "comissionados" na campanha, servidores concursados de Diadema também relataram pressão de superiores para participar dos atos.

De acordo com Almir Rogério "Mizito", presidente do Sindicato dos trabalhadores na área de saúde privada e filantrópica do Grande ABC (Sindsaúde ABC), funcionários no geral têm denunciado pressões do tipo desde o fim de semana. Em resposta, o Sindsaúde deverá encaminhar uma denúncia formal ao Ministério Público nos próximos dias.

Mizito afirma ainda que esse tipo de pressão configura como assédio moral, além de ser uma violação do que é permitido em termos de campanha eleitoral. "Trabalhadores que trabalham pela SPDM estão sendo pressionados a fazer campanha. Ele [Lauro Michels] está utilizando dinheiro público para manter sua sustentabilidade política", diz o presidente do sindicato.