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Uma notícia que começou a circular nas redes bolsonaristas dá conta de que políticos do PT e do PSOL, além do líder do MST, João Pedro Stédile, teriam solicitado uma intervenção do presidente francês Emmanuel Macron na Amazônia. A fake news divulgada pelo portal Jornal da Cidade Online, um dos principais espalhadores de mentiras da extrema-direita, e por um portal de notícias do agronegócio, distorce um documento assinado por lideranças de esquerda e prega criminalização da esquerda por meio da Lei de Segurança Nacional.
Com um título chamativo, o Jornal da Cidade Online divulga que "deputados do PT e do PSOL assinaram documento criminoso exigindo a intervenção da França na questão da Amazônia" e compartilha um vídeo de um advogado historicamente ligado aos ruralistas para defender a posição do agronegócio na questão do Meio Ambiente, Antonio Fernando Pinheiro Pedro. Pinheiro Pedro atuou no gabinete de transição de Bolsonaro por indicação dos ruralistas e chegou a ser cotado para assumir o Ministério no lugar de Ricardo Salles.
Em entrevista dada ao Notícias Agrícolas, portal comandado pelo jornalista João Batista Olivi e reconhecido como um dos mais influentes entre ruralistas, Pinheiro Pedro relaciona um manifesto publicado no jornal francês Liberation em julho, que pede que a França não assine o Acordo de Livre Comércio Mercosul-União Europeia porque ele garantiria uma maior devastação da Amazônia, com um suposto pedido da oposição de intervenção internacional na floresta.
Àquela altura, o governo francês já colocava em dúvida se iria ou não se comprometer com o pacto, destacando exatamente a política ambiental do governo Bolsonaro, que afastou Alemanha e Noruega do Fundo Amazônia. O texto foi assinado por lideranças políticas da França e do Brasil, como o presidente da CUT, Vagner Freitas, o líder do MST, João Pedro Stédile, o líder do MTST, Guilherme Boulos, a presidenta do PT, Gleisi Hoffman e parlamentares como o senador Humberto Costa (PT) e deputados federais como David Miranda (PSOL), Glauber Braga (PSOL), Ivan Valente (PSOL), Paulo Pimenta (PT) e Talíria Petrone (PSOL).
Pinheiro Pedro classifica que a ação da oposição foi "orquestrada" com o presidente francês, que tem criticado duramente a política ambiental de Jair Bolsonaro, considerada complacente com a devastação da Floresta Amazônica. O advogado denuncia em artigo o manifesto como "mentiroso, difamatório e, sobretudo, criminoso" e aponta que houve "traição à pátria", dizendo ainda que a assinatura abaixo-assinado pode "ser enquadrada na Lei de Segurança Nacional - Lei 7.170/1983".
O Jornal da Cidade foi além e disse que a ação dos signatários "configura efetivamente um crime de segurança nacional, por traição à Pátria, passível de cassação de registros dos partidos e prisão dos missivistas, por pedir intervenção de um governo estrangeiro em território nacional".
Segundo artigo 138 do Código Penal Brasileiro, imputar falsamente fato definido como crime é considerado calúnia e tem como pena detenção que pode ir de seis meses a dois anos, além de multa.
Desmonte da Conama
Vale destacar também que o autor da insinuação, Antonio Fernando Pinheiro Pedro, é um dos pivôs da crise ambiental internacional. Ele é um autor do projeto que cria um Conselho de Governo para se sobrepor ao Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama). A gestão Salles é responsável por um desmonte da Conama que reduziu a participação da sociedade civil.