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Um dos principais assuntos do dia nesta terça-feira (21) foi o anúncio de que, quase seis meses após assumir, o presidente Jair Bolsonaro decidiu fazer uma viagem para o Nordeste, uma das regiões em que mais é rejeitado e onde perdeu para Fernando Haddad (PT) em todos os estados no segundo turno das eleições. A tag #NordesteCancelaBolsonaro ficou boa parte do dia nos Trending Topics do Twitter, já sinalizando que a receptividade ao presidente em uma das regiões mais pobres do país não deve ser lá das melhores.
Uma das primeiras paradas de Bolsonaro deverá ser Pernambuco, estado do deputado federal Carlos Veras (PT), o entrevistado da última edição do programa Fórum 21.
Aos jornalistas George Marques e Ivan Longo, Veras lembrou da consciência política do povo nordestino e denunciou o desmonte que Bolsonaro vem promovendo e que afeta diretamente a vida dos mais pobres.
"Ele que não espere festa em Pernambuco. O Nordeste deu uma resposta clara nessas eleições, não se deixou enganar como muitas regiões se enganaram com Bolsonaro. O Nordeste é uma terra de pessoas sofridas, que desde sempre sofrem para ter uma vida digna, mas são pessoas de muita consciência política. Não se entregam, tem um espírito vencedor e lutador", afirmou, sugerindo que o presidente visite as regiões mais humildes de seu estado.
"Ele vai para Petrolina e acho que para a capital, mas não acredito que ele terá coragem de visitar os mais humildes para conhecer a realidade. Seria bom que ele pudesse reconhecer a realidade do povo pernambucano. Sou de uma cidade chamada Itabira, 400 km da capital, agricultor familiar, de família humilde, de uma região que sabem do sofrimento dos trabalhadores. Se ele conhecesse a realidade das pessoas do Nordeste, que estão enfrentando o 9º ano de seca consecutivo, não fazia uma proposta de reforma da Previdência como está propondo, não baixaria a MP 871 que trata os agricultures familiares como criminosos", disse, lembrando ainda que Bolsonaro retirou o Semiárido do orçamento da União e que planeja vender o Banco do Nordeste, que é uma instituição de fomento e sustenta a agricultura familiar.
Bate cabeça
Na mesma entrevista, Carlos Veras disse ainda, ao comentar o rompimento entre o presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), e o líder do governo, deputado Major Vitor Hugo (PSL-GO), que não há relação política ou institucional entre o governo e o Congresso.
"Os líderes dos partidos que dão sustentação ao govenro batem cabeça entre si. Não há o menor consenso entre eles, não se entendem. Até por uma falta de experiência muito grande na política, muitos vieram sem passar por nenhuma organização social de direita, de esquerda, de centro, sem nenhum processo de militância, de entender como funciona esse processo de diálogo, de respeito às opiniões diferentes. Então, eles não conseguem dialogar", disse.
"É um governo desastroso, um governo que vive batendo cabeça. A única frase verdadeira do presidenre da República é quando ele disse que não estava preparado para ser presidente. E, de fato, não está", criticou Veras.
Domingo ele não vai
Nesta terça-feira (21) o porta-voz da presidência, Otávio Rêgo Barros, informou que Bolsonaro não comparecerá às manifestações que vêm sendo convocadas em seu apoio no próximo dia 26. O presidente chegou a cogitar ir e incentivar os atos, mas desistiu após divergências entre aliados. Além de defender Bolsonaro, os protestos têm entre as reivindicações o "fechamento" do Congreso Nacional e do Supremo Tribunal Federal (STF), pautas que endossam os ataques que o capitão da reserva faz à "classe política" a qual ele pertenceu parte por 28 anos.
Para Carlos Veras, a decisão de Bolsonaro de não ir aos atos foi devido à percepção de que as ruas, no dia 26, deverão estar esvaziadas.
"Eu acho que o Bolsonaro percebeu que seus robôs não vão às ruas. Ele ganhou com os robôs e tenta governar com os robôs pelo Twitter. Não é papel do presidente condenar ou incentivar nenhuma manifestação. Não é papel tratar os manifestantes do dia 15, que eram estudantes e professores, como idiotas e imbecis. Isso não é forma do presidente tratar as pessoas. Ele tinha que dialogar, ouvir. E não tratar com um desrespeito tão grande quanto esse. Acho que ele percebeu que dia 26 nas ruas não vai dar ninguém. Quem vai paras as ruas defender esse governo que cai a cada dia?", questionou, citando ainda a mais recente pesquisa que aponta que a rejeição de Bolsonaro já é maior que sua aprovação.
Assista a íntegra da entrevista.