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POLÍTICA
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“Você corta um verso, eu escrevo outro /Você me prende vivo, eu escapo morto /De repente olha eu de novo /Perturbando a paz, exigindo troco / Olha o velho, olha o moço chegando /Que medo você tem de nós, olha aí”. (Pesadelo – Paulo César Pinheiro e Maurício Tapajós)
Presidente:
Já faz um tempinho que eu queria escrever uma cartinha, mas não conseguia nem ao menos começar. Soava-me como atrevimento, coisa meio pretensiosa. Que poderia eu escrever para o senhor que fosse significativo? O absurdo da sua prisão dói muito, gera um sentimento de perplexidade.
Confesso: só tomei coragem depois que li a carta mais linda do meu amigo Jean. Tenho quase a mesma idade que ele. Minha vida ganhou sentido e rumo quando conheci sua luta e me tornei um pedacinho desse troço extraordinário chamado Partido dos Trabalhadores.
Eu tinha 16 anos e morava em Uberaba, no interior de Minas Gerais, quando fui arrebatado por aquele furacão encantado, a campanha presidencial de 1989: “Lula lá”. Meu primeiro voto. Meu primeiro compromisso de vida. Até hoje não consigo ouvir os iniciais acordes do “hino” do Acioli sem que me venham lágrimas aos olhos.
Depois de participar dessa jornada tomei a decisão de colocar minha existência a serviço da luta socialista e da construção do Partido dos Trabalhadores. Militei no movimento estudantil, ajudei a construir juventude petista, fui dirigente partidário e há muitos anos atuo no ativismo LGBT e no movimento de direitos humanos.
Em março, defendi minha dissertação e me tornei mestre por uma universidade pública, a UFABC. Dediquei meu trabalho ao senhor, criador de tantas universidades, o cara que democratizou pela primeira vez o acesso ao ensino superior.
Quero compartilhar a experiência mais linda da minha trajetória como militante petista gay - que coordenou o setorial nacional e também a formulação do seu programa de governo em 2006 nesse tema da cidadania LGBT. Naquele caderno de propostas, escrevemos o sonho de uma Conferência Nacional.
Em 5 de junho de 2008 , pela primeira vez na história do Brasil (e talvez do mundo), um presidente da República abriu uma conferência governamental convocada com o objetivo de formular políticas públicas de promoção dos direitos das lésbicas, gays, bissexuais, travestis e pessoas transexuais.
Um marco histórico. Todo mundo se emocionou naquela abertura, parecia um comício: o momento em que o Estado brasileiro, pela primeira vez, reconheceu que a gente existe e tem direito a ter direitos.
Eu sei que o senhor também se lembra com carinho daquele momento e de tudo que fez em seu governo em prol dos direitos LGBT. Não foi à toa, que em 2010, em uma das últimas cerimônias realizadas Palácio do Planalto o querido Toni Reis lhe concedeu o titulo carinhoso de “Papai Noel das LGBT”
Presidente:
Que medo eles têm da gente. Que medo eles têm do senhor.
Se não tivessem te prendido (e amordaçado) seria impossível consolidar o golpe que começou com a derrubada da Dilma - e alcançou nova etapa com a chegada de Bolsonaro à Presidência.
Hoje já sabemos bem mais sobre o papel que os EUA jogaram em todo o processo - bem como a atuação das Forças Armadas. Não foram só a Globo, a maioria do Congresso, Moro e Dallagnol ( oh duplinha desqualificada, marionetes do imperialismo) que destruíram o pacto democrático de 1988.
Aquele tweet do general Vilas Boas mandando o Supremo te prender escancarou o que realmente está em curso: um novo tipo de golpe civil-militar - embora sem a movimentação ostensiva das tropas. Estão a demolir as instituições e o sistema político, por dentro. O senhor bem que vaticinou: “O STF está acovardado”. Continuam assim, Presidente.
Trata-se de uma articulada ofensiva internacional do grande capital, do imperialismo, do capital financeiro e da grande burguesia nacional. Decidiram não mais “tolerar” governos progressistas no continente latino-americano. Depois da crise de 2008 o capitalismo neoliberal e os regimes democráticos estão se tornando incompatíveis.
Eles querem o pré-sal - todo nosso petróleo. Querem a Amazônia: nossas árvores, nossa água, nossos minérios. Querem as empresas brasileiras. Querem nos impedir de ser um país soberano com uma voz altiva e ativa no cenário internacional.
Nos anos 1960 e 1970 essa turma operava patrocinando golpes militares. Agora, em diversos países, atuam pelas mãos adestradas do Ministério Público e do Judiciário. Na Argentina, por exemplo, tentam prender a aguerrida Cristina Kirchner, com o único objetivo de impedir que ela ganhe as eleições - enterrando o neoliberalismo anti-povo do Macri.
Presidente:
Que resistência comovente ! O senhor é um gigante. Seus algozes são vermes. Serão desprezados, daqui a pouco - jogados na lata do lixo da história.
Sua dedicação ao povo brasileiro, seu martírio, sua altivez e coragem - encarando de cabeça erguida nossos inimigos de classe, inspira milhões de lutadores sociais e tocam fundo no coração dos de baixo.
Lula é o preso político mais importante do mundo no século 21. Daqui a 50 anos, jovens universitários vestirão camisetas estampadas com seu nome e rosto.
Tem muita coisa ruim acontecendo aqui fora, Presidente. Cá comigo, tenho a convicção de que nada de bom vai acontecer no Brasil enquanto Luis Inácio Lula da Silva permanecer encarcerado em Curitiba.
O senhor vai sair daí. Pode não ser tão rápido como a gente quer, mas não vai demorar tanto quanto eles desejam. Os ventos já começaram a virar. Derrotaremos a reforma da previdência.
Vamos nos dedicar a reinventar e fortalecer PT, fazendo, na prática o balanço de nossos erros e reformulando nossas formas organizativas bem como a estratégia de luta pelo socialismo.
Vamos recolocar o campo democrático-popular de volta ao centro da disputa política. Vai valer a espera. Estamos te esperando e lutando aqui fora, Lulão.
Vem para cá ajudar seu povo a voltar a ter esperança.
#ForçaLula #LulaLivre #LiberdadeparaLula
Julian Rodrigues
São Paulo, 7 de abril 2019 (1 ano do sequestro político de Luis Inácio Lula da Silva)