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Felipe Coutinho, presidente da Associação dos Engenheiros da Petrobras (Aepet), por intermédio de uma carta aberta aos caminhoneiros, pediu a união da categoria contra a privatização da empresa e na defesa do interesse nacional.
Vejam abaixo a íntegra da carta aberta ao caminhoneiro brasileiro:
Felipe Coutinho
Produzimos petróleo, refinamos e produzimos combustíveis no Brasil, mas a direção da Petrobras, desde 2016, decide adotar preços proporcionais aos da importação para os combustíveis produzidos nas suas refinarias.
Com preços altos em relação ao custo de importação, o diesel da Petrobras fica encalhado nas suas refinarias e parte do mercado brasileiro é transferido para os importadores. A ociosidade das refinarias brasileiras aumenta, há redução do processamento de petróleo e da produção de combustíveis no Brasil. Aumenta a exportação de petróleo cru.
Combustíveis produzidos nos EUA são trazidos ao Brasil por multinacionais estrangeiras da logística e distribuídos pelos concorrentes da Petrobras.
A Petrobras perde com redução da sua participação no mercado. O consumidor paga mais caro, desnecessariamente, com o alinhamento aos preços internacionais do petróleo e à cotação do câmbio.
Ganham as refinarias dos EUA, as multinacionais da logística e as distribuidoras privadas. Também são beneficiados os produtores e importadores de etanol, com a gasolina relativamente mais cara que perde mercado.
Cabe registrar que apesar do preço do diesel nas refinarias representar cerca de 54% do preço final ao consumidor, impostos são proporcionais e quando o preço varia na refinaria também varia nos postos. Quando se eleva o preço na refinaria, o reajuste ao consumidor é mais rápido do que quando se reduz.
O atual presidente da Petrobras diz que a solução é a privatização de metade das refinarias da Petrobras.
Castello Branco afirma: “Vender refinarias não é só bom para a Petrobras. Nós vamos deixar de ser o endereço onde as pessoas batem na porta para reclamar de preço da gasolina, diesel” e acrescentou: “Eu não quero mais ouvir essa expressão, ‘Ah, a política de preços’”. (Reuters, 2019).
Então, estamos assim, com preços mais altos que os custos de importação, apesar de se produzir e refinar no Brasil. Pretendem privatizar e desnacionalizar metade do parque de refino brasileiro para assim não se falar mais de política de preços dos combustíveis. Se o brasileiro quiser reclamar do preço do diesel, ou da gasolina, vai ter que procurar o Papa Francisco. Tudo resolvido? Claro que não.
Ao longo dos anos, motoristas de caminhões fizeram grandes manifestações em vários países, em geral motivados por altos preços de combustíveis. Mas há também um caso patrocinado pela CIA. Assim como no movimento dos caminhoneiros no Brasil, a elevação dos preços dos combustíveis esteve entre os principais motivos para greves históricas em países como Grécia e Colômbia. Mas houve também paralisações que levaram ao reconhecimento de sindicatos e ao estabelecimento de direitos trabalhistas, como nos EUA na época da Grande Depressão. São exemplos históricos: Estados Unidos (1934, 1974, 1979, 1983), Chile (1972), Grécia (2010), Colômbia (2016) e Irã (2018). (Deutsche Welle, 2018).
Somente a Petrobras consegue suprir o mercado doméstico de derivados com preços abaixo do custo de importação e, ainda assim, obter resultados compatíveis com a indústria internacional e sustentar elevados investimentos que contribuem para o desenvolvimento nacional.
No entanto, a política de preços dos combustíveis e a privatização das refinarias pode impedir que a Petrobras exerça seu potencial competitivo para se fortalecer e impulsionar a economia nacional com seu abastecimento aos menores custos possíveis.
Caminhoneiros e petroleiros precisam se unir para mostrar à maioria dos brasileiros que é possível, e necessário, reduzir o preço dos combustíveis e que, para isso, temos de evitar a privatização e a desnacionalização das refinarias da Petrobras.