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Mais de dez anos depois do fim da CPI das Milícias da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), uma nova tentativa de investigar as organizações criminosas paraestatais que controlam e extorquem comunidades começa a ser articulada. Dessa vez, no Congresso Nacional – mas pelas mesmas mãos do presidente da comissão de parlamentares fluminenses, que, em 2008, pediu o indiciamento de 225 políticos, policiais, agentes penitenciários, bombeiros e civis: as do agora deputado federal Marcelo Freixo (PSOL-RJ).
Após três mandatos como deputado estadual, o professor e ativista chegou a Brasília em 2019 – mesmo ano em que Jair Bolsonaro assumiu a Presidência da República, a qual tenta conduzir sob forte influência dos filhos que integram o clã político - historicamente simpático às atividades milicianas, seja via nebulosas nomeações para cargos públicos, homenagens, honrarias e até mesmo pela tentativa de legalizar os grupos paramilitares, proposta pelo agora senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), quando deputado estadual no Rio.
O patriarca da dinastia também chegou a, publicamente, defender e relativizar a conduta miliciana enquanto deputado federal.
Mais amplo
Mas Freixo garante: Bolsonaro não é o foco da CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito) que articula e que já conta com a coautoria dos líderes dos partidos progressistas na Câmara Federal: PT, PSOL, PDT, PSB e PCdoB.
“Ele tem relações que não deveriam ter existido nunca, mas investigar as milícias é algo muito maior do que os equívocos do Bolsonaro”, afirma Freixo em entrevista à Fórum.
Para o deputado, a apuração se faz necessária e aponta propósitos distintos da que foi promovida pela Alerj.
“Lá, a CPI foi sobre o Rio de Janeiro. Agora, é nacional. Essa é a diferença de imediato”, pontua.
Para além disso, na avaliação de Freixo, a passagem de mais de uma década da primeira investigação supõe diferenças substanciais.
Impossível não pontuar: nesse meio tempo, as organizações criminosas que torturam e matam atuaram na execução política da vereadora Marielle Franco (PSOL), em março de 2017, de acordo com o Ministério Público.
Permanece a dúvida sobre quem mandou matar a ativista, que foi assessora de Freixo – alvo constante de ameaças de morte por seu enfrentamento ao crime. Por isso, anda escoltado desde os tempos da CPI na Alerj.
Mobilização
Na semana que passou, após publicação de Freixo no Twitter, a hashtag #CPIdasMilicias mobilizou internautas.
Para o deputado, os esforços para viabilizar a investigação só valem a pena se houver “um grande movimento”. “Pode ser que aconteça”, diz, destacando o comprometimento já firmado pelos partidos de esquerda na Câmara. “Tem que chamar a responsabilidade também do Senado para que seja feito algo republicano”, defende o parlamentar, justificando a proposta de comissão mista – que envolve as duas casas do Congresso Nacional. A coleta de assinaturas já começou. Para que o pedido seja protocolado, é necessária a adesão inicial de um terço dos parlamentares (171 deputados e 27 senadores). Quebras de sigilos fiscais, telefônicos e bancários estão entre os instrumentos pertinentes para atuação das comissões. Nossa sucursal em Brasília já está em ação. A Fórum é o primeiro veículo a contratar jornalistas a partir de financiamento coletivo. E para continuar o trabalho precisamos do seu apoio. Saiba mais.Enquanto Bolsonaro pedia legalização das milícias e elogiava grupos de extermínio, eu realizava a #CPIdasMilicias, que levou os chefões da máfia à prisão. Enquanto Bolsonaro comemora o golpe e seus crimes, nós saudamos quem foi de aço nos anos de chumbo. Quem defende bandidos?
— Marcelo Freixo (@MarceloFreixo) March 27, 2019