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Aos 55 anos, o Carlos Fernando dos Santos Lima ganhou nesta terça-feira (19) a aposentadoria após 24 anos de trabalho no Ministério Público Federal. Ao desocupar o gabinete no oitavo andar da Procuradoria Regional da República da 3.ª Região (PPR-3), em São Paulo, deu a última entrevista ainda no cargo aos jornalistas Ricardo Brandt e Fausto Macedo, do jornal O Estado de S.Paulo, e confessou que a condução coercitiva contra o ex-presidente Lula visava "desconstruir a imagem" do petista.
"Era necessário desconstruir a imagem que existiam pessoas fora do alcance da Justiça. Aquele momento a condução teve a virtude de mostrar que a Justiça alcançava qualquer um. Não é bem assim, porque na verdade há uma série de intocáveis na República, mas de qualquer forma depois que o Lula foi preso (em abril de 2018, após condenação em segundo grau), ninguém está mais garantido", disse ressaltando que dependendo do lugar onde fosse realizada a ação, "politicamente ia ser um problema".
Santos Lima ainda afirmou que foi dos procuradores da Lava Jato a ideia de divulgar os áudios da conversa de Lula com a ex-presidenta Dilma Rousseff (PT), que tinha intenção de colocar o ex-presidente na Casa Civil. "Fomos nós que pedimos, não foi o (ex-juiz Sérgio) Moro que tirou da cartola. Não vejo problemas nas gravações, era evidente que estava sendo articulado ali", disse, ao ser indgada sobre o que achava da "divulgação dos áudios".
Sobre os arrependimentos nos cinco anos em que esteve na Lava Jato, o procurador deveria ter dado mais "apoio" ao colega, Deltan Dallagnol, na divulgação do Power Point de Lula, que virou motivo de chacota em todo o mundo.
"Talvez dar mais apoio para o Deltan (Dallagnol, coordenador da força-tarefa da Lava Jato) no dia da apresentação do power point (sobre a primeira denúncia criminal feita contra Lula), mas lidamos com o processo Lula de maneira muito cuidadosa… É o tipo de investigação que tem dificuldade natural, pelo tamanho que era a imagem do presidente Lula".
O procurador diz que, fora do MPF, vai atuar agora no ramo de "compliance", neologismo do mundo corporativo sobre práticas éticas desenvolvidas nas empresas.
" Com minha visão de procurador eu posso ajudar as empresas a procurar documentos para iniciar negociações com o Ministério Público. Até posso trabalhar com negociações com o Ministério Público, mas quero construir uma atividade que não seja concorrente com o Ministério Público, mas sim coadune com os interesses do Ministério Público. Vou ajudar empresas a resolver seus problemas, mas não a confrontarem. Porque hoje em dia, quem trabalha com compliance, a última coisa que se deve fazer é confrontar. A Odebrecht é um exemplo de confrontação que quase levou à uma situação de não retorno", disse.
Leia a entrevista na íntegra.
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