Sérgio Moro, um neomiliciano no sequestro da justiça

Marcos Danhoni: "Moro pensa, ao ter trocado o Ministério Público pelos holofotes do Ministério da Justiça, ter dado o grande golpe de mestre como Benito Mussolini havia feito na distante Itália da década de 20 do século passado"

Foto: Câmara dos Deputados
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[caption id="attachment_165940" align="alignnone" width="700"] Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil[/caption] Por Marcos Cesar Danhoni Neves* Já escrevi em outras oportunidades sobre este obscuro personagem Sérgio Moro, mas vale a pena repetir alguns de seus atos pretéritos que explicam por que o atual Ministro da Justiça será o baluarte de um governo ultrafascista, miliciano e de terror aos princípios basilares da democracia. Moro é filho de um professor universitário que fez carreira no Departamento de Geografia da Universidade Estadual de Maringá (UEM), especialmente nos anos da ditadura militar. Sua ação docente sempre foi conservadora e de apego aos ditames do regime de exceção. Na primeira greve da UEM, durante o governo João Batista Figueiredo, o pai de Moro e mais uma professora (esposa do Reitor biônico – não eleito – como quer o atual ministro colombiano da Educação brasileira) resolveram furar a greve, indo contra a decisão coletiva tomada pelos docentes em prol do movimento. Os alunos reclamaram dos fura-greves e dois colegas meus do sindicato foram arbitrar a confusão. Após esta intervenção os dois docentes reacionários resolveram deixar a sala de aula para que as portas do edifício fossem trancadas, como havia sido deliberado em Assembleia. Ao final do movimento paredista, meus dois colegas sofreram processos disciplinares em comissão comandada pelo reitor biônico e seus asseclas. O pai de Moro protagonizou ainda discussões com Centros Acadêmicos, DCE e o sindicato porque, quando foi chefe de departamento, não permitia que membros dessas instituições pudessem divulgar suas plataformas políticas e de lutas. Isso tudo demonstra o viés autoritário que Moro-pai passou a Moro-filho. Devemos também, nesta receita de autoritarismo, adicionar o ingrediente “religião”: a mãe de Moro é carola de Igreja até hoje, compondo os quadros mais reacionários da Igreja Católica, os carismáticos. Corre à boca pequena na cidade de Maringá que ela poderá concorrer a um cargo executivo (vice-prefeita) ao lado de um personagem ligado ao MBL e aos movimentos religiosos mais obscuros que devassam o Brasil de hoje. Estabelecidas as bases do DNA reacionário de Moro fica mais fácil explicar seu estrelismo no mundo jurídico. Quando ainda rábula compôs um escritório de advocacia que acabou por soltar o maior rapinador de dinheiro público da cidade, o então prefeito Jairo Gianotto (do PSDB, que teria subtraído, em valores atuais, cerca de um bilhão de reais, “investindo” o dinheiro público em suas megafazendas no Mato Grosso). Depois dessa “estreia” na defesa de um megacriminoso, Moro torna-se juiz (concurseiro) e arbitra um ultramega-escândalo: a evasão de divisas para o exterior usando o Banco Estatal do Paraná, BANESTADO. O informante e operador do escândalo era um doleiro de nome Youssef (o mesmo do caso PETROBRAS). Moro não puniu ninguém, sequer o operador. E atentem ao detalhe: o caso BANESTADO supera a PETROBRAS por um fator da ordem de dez vezes ou mais! Com esse cabedal de defesa e não punição de criminosos, Moro é preparado, como juiz da 13ª Vara, a bloquear a esquerda no Brasil (um velho sonho de seu pai), através da produção de provas falsas (e inconsistentes) contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Para tanto, Moro estuprou a lei em um sem-número de vezes. Usou vazamentos seletivos para a imprensa sabuja e felatória, vazou conversas telefônicas entre a presidenta Dilma e Lula e entre familiares do ex-presidente sem ter permissão judicial para isso. Fez ativismo judiciário usando métodos reprováveis, como, por exemplo, a ação messiânica e política de Deltan Dallagnol sobre as “Dez Medidas” (mais conhecidas por “DesMedidas” do Judiciário), usou e abusou do uso de diárias nacionais e internacionais para viagens inúteis (especialmente nos EUA para receber menções de universidades ultraconservadoras, mas que são “think tanks” da direita norte-americana), usou sua esposa para construir um Facebook ridículo (chamado acintosamente de EU MORO COM ELE – querem um exemplo de machismo mais explícito?!?). Moro usou de sua influência para tentar ganhar até um título de Doutor honoris causa na universidade em que ele se formou, a UEM. Quando soube dessa última ação, pesquisei seu currículo e notei que era de uma pobreza extraordinária: uma página apenas! Denunciei na imprensa e em carta ao Reitor a insanidade de tentativa de concessão de título, e acabamos por bloquear esta outra fase de estrelismo a uma pessoa de clara incompetência acadêmica. Além de todos os crimes cometidos por Moro, já revelados pelo juiz Teori Zavascki (estranhamente morto num acidente aéreo – onde deixaram morrer uma das sobreviventes enclausurada nos destroços do avião em meio ao mar), devemos lembrar que Moro impediu a defesa de visitar o tal triplex “do Lula”. Um mês depois da prisão de Lula, numa ação espetacular, o MTST invadiu o apartamento e viu que não havia reforma, nem móveis nababescos, nem elevador exclusivo. O mesmo foi relatado por uma pessoa que se fez de compradora para visitar o imóvel. Moro condenou Lula por “atos indeterminados”, pois foi incompetente em encontrar alguma prova consistente, a menos daquelas obtidas por deduragens-cheias-de-prêmios (deduragens pagas com o fruto do roubo do dinheiro público, como revelou o sempre fiel informante de Moro, Youssef). Além de todo esse passado grotesco, devemos lembrar a constelação de promotores, juízes que usam do cumpliciado e do compadrio para chancelar os atos criminosos exarados pela 13ª Vara. O obscuro Procurador, Deltan Dallagnol, não passa de um rábula que entrou no Ministério Público graças à liminar de seu papai, pois não podia, no ano que pleiteou seu ingresso, entrar para o MP. Dallagnol, como procurador do caso Lula, nunca esteve presente numa oitiva do ex-presidente (devido ao medo que tem de embates hermenêuticos jurídicos, pois não domina essa arte argumentativa). Diante desse personagem, investiguei um ponto muito obscuro de suas ações privadas. Como trabalho em Ponta Grossa-PR, descobri que ele poderia ser dono de dois apartamentos do Minha Casa Minha Vida (num condomínio ao lado da Universidade Estadual de Ponta Grossa). Marquei uma visita aos dois imóveis e descobri, pedindo a documentação no Cartório de Registro de Imóveis da cidade, que Deltan e sua esposa tinham comprado apartamentos destinados a gente pobre para revender no Mercado Imobiliário ao dobro do preço! Um acinte! Uma corrupção dos costumes para alguém que se coloca como paladino da Justiça. Além do mais, esse personagem grotesco (cotado para substituir Raquel Dodge na PGR) usa de ativismo religioso, em sua sanha messiânica de destruir a democracia no país (não vamos nem deitar mais palavras sobre esse sujeito, incluindo seus ganhos com auxílios-moradia e creche...). Além de Dallagnol (e também Lima), Moro conta com a cumplicidade dos juízes do TRF-4 que, em ação coordenada, deram uma pena pré-discutida, de forma conspiratória, contra Lula. Gebran, Paulsen, Laus têm digitais em várias ações concatenadas com Moro (coleguismo em pós-graduação, ministração de cursos caríssimos de especialização em parceria, preâmbulos de livro etc.). O presidente do TRF-4, Thompson Flores (parente do famoso general de mesmo nome que ajudou a promover o genocídio da Guerra de Canudos), catalisou todo esse processo conspiratório, chegando a dar entrevista em que exclamava que a peça acusatória de Moro contra Lula era “perfeita”, mesmo sem tê-la lido... Após a prisão de Lula, o que dizer dos comportamentos reprováveis de Carolina Lebbos e Gabriela Hardt: juízas que desprezam o conceito da própria Justiça e usam da arrogância como meio de trabalho, conspurcando a própria noção da Justiça?!? É nesse panorama terrível que Moro preparou, com todas as suas ações espetaculosas e distantes da Lei, a eleição do megafascista Jair Messias Bolsonaro, e sua entrada na política, transformando-se no atual ministro da Justiça e protetor dos milicianos da “Famiglia” Bolsonaro. Moro deverá nas próximas horas exarar suas ações ministeriais, após todo o silêncio em relação aos megaescândalos envolvendo Queiroz e Flávio Bolsonaro, à questão das milícias, da destruição das bases constitucionais de 1988, baixar sua política de Segurança Pública, reescrevendo suas “DesMedidas” (incluindo a não punição de juízes sob quaisquer circunstâncias, incluindo corrupção de provas...) e tingindo-as de um combate às grandes quadrilhas e milícias (obviamente poupando as de seu chefe imediato, Jair Bolsonaro & Sons). Moro pensa, ao ter trocado o Ministério Público pelos holofotes do Ministério da Justiça, ter dado o grande golpe de mestre como Benito Mussolini havia feito na distante Itália da década de 20 do século passado! Mas, tal qual Il Duce fascista, cairá fragorosamente quando o verniz de sua pobre verve tiver sido dissolvido pela acidez das descobertas de seus crimes. Quando isso acontecer ele, e sua troupe de milicianos judiciários serão varridos para sempre do panteão de nossa democracia para estampar as páginas da história dos grandes crimes conspiratórios contra a nação brasileira. Quem viver, verá! Delenda fascisti!!! *Marcos Cesar Danhoni Neves é professor titular da Universidade Estadual de Maringá e autor do livro “O Labirinto do Conhecimento”, entre outras obras

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