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Por Daniel Trevisan Samways*
Bolsonaro teve um expressivo número de votos entre os mais pobres e também na chamada classe média. Sem esses votos, jamais seria eleito. Não podemos afirmar que as pessoas votaram em Bolsonaro apenas porque eram contra o PT ou anticomunistas de carteirinha, mesmo que seja fácil encontrar esses perfis entre seus eleitores. Muita gente votou em Bolsonaro porque ele prometeu que faria diferente, que seria a novidade e não adotaria o velho conchavo político do “toma lá, dá cá”, como a troca de cargos por apoio no Congresso. Enganou muita gente. Claro que seus eleitores possuem responsabilidade em sua eleição, mesmo que votando com as melhores intenções. A questão é se ele conseguirá manter esse grande apoio.
O segmento mais fiel e fanático do bolsonarismo continuará com as trombetas a todo vapor, anunciando que vivemos um novo tempo e que tudo vale para impedir o retorno do PT. Mas essa tônica de campanha dificilmente colará para todos. As pessoas esperam resultados e não é o que veem em todos os jornais. Esquemas de corrupção, laranjas, troca de apoio político, caixa 2, milícias, cheques e aliados envolvidos até o pescoço em desvio de recursos públicos. Enfim, tudo que prometeu combater.
Agora, precisa empurrar uma medida draconiana para mudar a previdência. Vai dizer, e gastar muito dinheiro público para isso, que as medidas são necessárias e que está combatendo privilégios. Mas o tiro pode sair pela culatra. Bolsonaro pode perder o apoio que o elegeu, e o mesmo pode acontecer com a sua base no PSL. Outros partidos e políticos podem se afastar, com medo de serem afetados nas eleições municipais do próximo ano. Por mais que a oposição tenha se enfraquecido na última eleição, ela ainda possui condições para fazer muito barulho e pressionar deputados e senadores em sua base. Emendas, como aposta a equipe de Bolsonaro, podem não garantir o apoio esperado. Novos escândalos também podem azedar a relação com o Congresso.
Mas, principalmente, as pessoas podem ir às ruas contra o encarecimento do custo de vida e as reformas que vão dificultar a aposentadoria. E se o dito mercado perceber que Bolsonaro não tem condições de levar as reformas adiante, dificilmente o manterá no governo. O grande capital é o fiel da balança e sem ele Bolsonaro não para em pé. Com uma forte oposição nas ruas, sua situação pode ficar cada vez pior. Os aliados de ocasião são os primeiros a abandonar um barco naufragando.
Ainda é muito cedo para afirmar que tudo isso vai acontecer. Contudo, com a passagem da euforia eleitoral e a realidade se impondo, pode ser um cenário possível.
*Daniel Trevisan Samways é doutor em História e professor no Instituto Federal do Triângulo Mineiro (IFTM)
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