A nova reportagem da Vaza Jato, publicada nesta sexta-feira (20) pelo The Intercept e a Ilustríssima, da Folha de S.Paulo, revelou o conluio de jornalistas de diferentes veículos com procuradores da Lava Jato para favorecer a narrativa da força-tarefa através de matérias jornalísticas. Repórteres "de confiança" combinaram matérias com os procuradores Deltan Dallagnol e Carlos Fernando dos Santos Lima, responsáveis pelo trato com a imprensa.
Germano Oliveira, editor da revista IstoÉ, foi responsável por uma série de reportagens fantasiosas contra Lula, a principal delas, no entanto, foi a que deu início ao caso do Tríplex do Guarujá, servindo como notícia-crime para abertura do processo e que resultou na prisão política do ex-presidente.
Ao lado de Germano na selfie do dia da condenação de Lula, estão outros jornalistas também reconhecidos como interlocutores da Lava Jato. São eles: Vladimir Netto, da TV Globo, Ricardo Brandt, do Estadão, André Guilherme, do Valor Econômico, e Flávio Ferreira, da Folha de S. Paulo.
Flavio Ferreira entrou em contato com a Revista Fórum e nega "qualquer tipo de armação ou conluio com integrantes da Lava Jato". "A maior prova disso é a minha participação na cobertura que ficou conhecida como Vaza Jato, na qual fiz reportagens que levantaram questionamentos sobre o caso. Se eu tivesse qualquer tipo de comportamento contrário à Ética do Jornalismo, o The Intercept Brasil não permitiria a minha atuação nessa apuração. As mensagens de Telegram da Vaza Jato deixam claríssimo exatamente o contrário, isto é, nunca participei de armações ou conluios.
Quanto à foto usada publicação da Revista Fórum, o jornalista Kiko Nogueira, apesar de pensar de modo diferente, acabou escrevendo em um texto a definição mais condizente com a realidade sobre o registro fotográfico: 'é apenas o flagrante de um encontro de colegas depois de um dia exaustivo de labuta'”, disse Ferreira.
Já Vladimir Netto, um dos que também está na foto e é filho da jornalista Miriam Leitã, escreveu uma biografia laudatória do ex-juiz Sergio Moro, intitulada “Lava Jato – O juiz Sergio Moro e os bastidores da operação que abalou o Brasil”. Sua esposa, a jornalista, Giselly Siqueira, foi uma das nomeadas por Moro para trabalhar em seu gabinete, assim que assumiu o ministério da Justiça.
Ricardo Brandt é outro jornalista que também aparece na selfie e que atuou na articulação de matérias jornalísticas com procuradores da força-tarefa. Repórter do Estadão especializado na Lava Jato juntamente com Fausto Macedo, ele chega a ser citado por Santos Lima, no grupo "Filhos do Januário", em uma das mensagens divulgadas pela Vaza Jato. Nas mensagens, o jornalista aconselha o procurador sobre como deve ser o tom de seu depoimento para uma das matérias sobre a Lava Jato.
A matéria da Vaza Jato desta sexta-feira confirma a ligação íntima dos procuradores com jornalistas, que submeteram ao coordenador da força-tarefa os textos de suas reportagens antes da publicação, para que apontasse erros ou imprecisões. Outros concordaram em publicar entrevistas que Deltan Dallagnol respondeu por escrito, inclusive com o acréscimo de questões que não tinham sido feitas.
A reportagem da Vaza Jato não revela quem são os jornalistas. Pelo histórico, no entanto, é possível identificar alguns daqueles que ajudaram a construir a narrativa da Lava Jato sobre o processo histórico que levou o Brasil ao triste quadro atual. Não necessariamente são os cinco da foto, mas certamente alguns desses não teriam coragem de dizer que não estão entre os que a reportagem da Vaza Jato citou como parte do conluio com o MP.
*Este post foi atualizado em 10/11/2020, às 18h40.