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Enquanto os manguezais sofrem com o vazamento de óleo que atinge o litoral nordestino desde o final de agosto, o governo de Jair Bolsonaro (PSL) alterou o plano de proteção desses ecossistemas, o que pode fazer com que essas áreas fiquem ainda mais fragilizadas. A mudança foi feita a pedido do secretário da Pesca, o mesmo que afirmou que os peixes são "inteligentes".
O responsável pela alteração no plano de proteção aos mangues foi o presidente do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), órgão ligado ao Ministério do Meio Ambiente. Mesmo criticado pelo conselho técnico do instituto, Homero de Giorge Cerqueira publicou no último dia 30 uma alteração no Plano de Ação Nacional (PAN) para os manguezais, revogando um item que previa ações para a erradicação de carcinicultura (criação de camarão em cativeiro) e a recuperação dos sistemas já afetados por estas práticas.
A mudança foi feita a pedido do secretário da Pesca, Jorge Seif Júnior, o mesmo que afirmou na última quinta-feira (31) que os peixes são inteligentes e fogem quando veem óleo e, por isso, não haveria problema em comer pescado das regiões atingidas no Nordeste.
A carcinicultura, explica a oceanógrafa Yara Schaeffer-Novelli em entrevista ao Estado de S.Paulo, é danosa para os manguezais, que servem de berçário para diversas espécies, além de serem fonte econômica para comunidades de pescadores e marisqueiras. “A exclusão desse item acaba fazendo com que esses resultados sejam jogados para debaixo do tapete", disse.
Em entrevista à Fórum, o professor de Oceanografia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Givan Yogui, confirmou a complexidade dos manguezais e alertou para a demora que o ecossistema vai levar para se recuperar do vazamento de óleo. “Nas praias, com as ondas batendo o tempo todo, é capaz que seja mais rápido. Agora, os estuários e os manguezais, dependendo da quantidade de óleo, vai levar eu diria mais de 10 anos pro ambiente se recuperar. Porque são ambientes onde têm uma renovação de água muito baixa, e o óleo acaba impregnando na lama, então ele pode ficar ali durante muito tempo”, contou.