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Por Paulo Pimenta (*)
A onda de protestos no Chile, em seguida à que varreu o Equador, deixa nítido o fracasso das políticas neoliberais, que atacam os direitos do povo, provocam miséria e desesperança e ao mesmo tempo privilegiam o grande capital e a concentração de renda.
O Chile é emblemático, pois é a “menina dos olhos” da dupla Jair Bolsonaro/Paulo Guedes e de certos comentaristas econômicos da grande mídia brasileira.
O “oásis” tão celebrado pelos neoliberais se deparou com insurreição da população, expressando a falência de um modelo inspirado na Escola de Chicago, adotado durante a ditadura do sanguinário general Augusto Pinochet e agora por Piñera.
Os brasileiros precisam perceber que a aposta ultraliberal na economia brasileira da dupla Jair Bolsonaro/Paulo Guedes é uma jogada de risco que pode levar o Brasil a um cenário dramático de recessão, desemprego, retirada de direitos, privatizações como estamos presenciando no Chile e Equador. Um modelo já repudiado pelos argentinos, que nas eleições de domingo (27) devem mandar para casa, já no primeiro turno, Maurício Macri e sua cartilha econômica.
Os exemplos de nossos vizinhos deveriam ser suficientes para despertar a consciência do povo brasileiro, pois a base da revolta de nossos irmãos sul-americanos são as injustiças geradas por um modelo econômico elitista que prejudica a maioria da população.
Os números sobre o quadro econômico e social do Chile mostram como se fomentou um caldo de cultura que levou à revolta popular. O aumento do preço das passagens do metrô foi apenas a ponta do iceberg. Centralmente, o problema vem da profunda desigualdade no país e a falência dos sistemas públicos de saúde, previdência e educação, praticamente privatizados, como quer fazer Bolsonaro no Brasil.
Um dado revelador é sobre a previdência chilena, modelo originado na ditadura Pinochet. Privatizada, os aposentados ganham muito menos do que ganhavam quando estavam na ativa – na maioria ganham metade do salário mínimo local. É altíssimo o índice de suicídio entre idosos no Chile, pois não ganham o suficiente sequer para comer. Lá também foi estimulada a privatização do ensino, se incentivou o uso de planos privados de saúde, que reduzem a cobertura para mulheres e idosos. Até a água foi privatizada.
Dados do estudo ‘Desiguales’, do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), mostram que o Chile é o país mais desigual entre os integrantes da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e o sétimo em desigualdade na América Latina. Atualmente, 1% da população chilena concentra 33% da riqueza — e 0,1% capta 19,5% do que o país gera.
A base de tudo é um modelo elitista nada diferente do modelo Bolsonaro, com a diferença que o presidente brasileiro defende e implementa bandeiras anti-povo sem que as tenha defendido na campanha eleitoral de 2018, feita à base de fake news.
Diante do cenário de terra arrasada promovido pelo neoliberalismo, um alento vem da Bolívia. Ali, com Evo Morales, recém-eleito para o quarto mandato presidencial, o caminho é o oposto, com um modelo fundado na inclusão que permite desenvolvimento e crescimento econômico com justiça social. O milagre econômico da Bolívia iniciou-se em 2006 com a nacionalização do petróleo e gás que permitiu crescer o PIB em 5% em média anual e reduzir a pobreza de 65% para 35% em 2018.
Neoliberalismo é sinônimo de miséria, crise social, privilégios para grandes grupos econômicos e injustiça social. É um modelo que já devia estar sepultado. Os ventos que sopram nos países vizinhos apontam que o povo está cansado de tanta injustiça.
*PAULO PIMENTA é jornalista e deputado federal (RS), líder da Bancada do PT na Câmara dos Deputados