Violeiro Paulo Freire lembra que o pai foi torturado pelo coronel Ustra, homenageado por Bolsonaro

O violeiro postou foto acompanhada do texto do momento em que o escritor era retirado por seguranças do palco do Festival Internacional da Canção

O violeiro Paulo Freire. Foto: Julinho Bittencourt
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O violeiro e compositor Paulo Freire publicou, em sua conta no Facebook, um depoimento emocionante sobre o seu pai, o escritor e somaterapeuta Roberto Freire. O violeiro lembra que o pai foi torturado pelo coronel Ustra, o mesmo homenageado pelo presidenciável Jair Bolsonaro durante a votação de impeachment da presidenta deposta Dilma Rouseff. Sem citar os nomes de Bolsonaro e Ustra, o violeiro postou foto acompanhada do texto do momento em que o escritor era retirado por seguranças do palco do Festival Internacional da Canção. Freire fazia parte do júri que teve o resultado alterado pela emissora. “Quem teria coragem de invadir o palco e ler o manifesto, para um Maracanãzinho lotado e transmissão ao vivo pela própria TV Globo? Meu pai”, diz o violeiro. Veja o depoimento na íntegra abaixo:   Esse é o meu pai. O escritor e somaterapeuta Roberto Freire. Ponto. Essa foto é no momento em que ele era arrancado do palco do Maracanãzinho. Meu pai fazia parte do júri do Festival Internacional da Canção. Que havia escolhido uma canção do Walter Franco como a grande vencedora do festival. Mas a Globo não concordou com isso. Tinha lá o seu artista para premiar... O júri foi destituído. Escreveram o manifesto. Quem teria coragem de invadir o palco e ler o manifesto, para um Maracanãzinho lotado e transmissão ao vivo pela própria TV Globo? Meu pai. Esse momento da foto foi quando, depois das primeiras palavras, cortaram o som do microfone, e levaram ele para o fundo do palco. Porrada e duas costelas quebradas. Ponto. Meu irmão viu meu pai sendo perseguido e preso durante o regime militar. Porque ele era desse jeito aí. Se não concordava com o que estava acontecendo, gritava por seus direitos. Assim como nós fazemos, e emitimos nossas opiniões, confortável e corajosamente instalados atrás de um celular... Sim, ele foi preso e torturado por defender suas opiniões. Ponto. A tortura não deve ser um punhado de letras jogadas numa folha de papel. Um ser humano que, num julgamento de impeachment, dá um viva ao torturador confesso de quem está sendo julgado, não é assim bem um ser humano. Para mim, ainda menos, pois esse homenageado foi um dos mesmos responsáveis pelas sessões de tortura que meu pai passou. Por ter uma opinião, assim como você tem, e que defende tão veementemente. Ponto. Como muito bem disse minha querida amiga Myriam Taubkin, precisamos agora ver o que queremos para nosso país, focar em nossos candidatos. Ver quem faz, quem é corrupto, quem merece, descobrir um caminho. Ponto. Vamos partir para a descoberta de um projeto. Mas se você admira meu pai, ou alguém que tenha essa coragem, acredite, para ele isso seria uma coisa inconcebível. Digo: ter um torturador como herói. Saia do mundo das palavras, imagina um amigo sendo espancado, dá uma martelada no próprio dedo. Deu? Ponto. Que qualidade de ser humano se alimenta com esse tipo de violência? Do que ele é capaz? Isso não tem nada a ver com política. Se tiver alguém por aqui que acha minha conversinha mole, só um conselho. Se quiser, apesar de tudo, continuar ao lado destes tipos, atenção, não mudem de ideia. Mas, se eles mudarem, siga cegamente, deixe de uma vez sua opinião pra lá. Bajule o rei. Ou olha a foto.