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POLÍTICA
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1. Tudo irretocavelmente pronto. Aparece Bolsonaro em cena no Albert Einstein. Voz baixa, trêmula, oscilante... um homem que foi vítima de facada realmente desferida. Pausas, engasgos; ele tossiu. Vítima. Bolsonaro se apresenta como vítima. Influenciado pelos resultados das pesquisas que mostram rejeição ao seu projeto e pelo
avassalador movimento das mulheres contrárias ao fascismo, busca-se construir uma humanização para a imagem de Bolsonaro. Procura-se, evidentemente, cuidar de sua rejeição. Nada mais aceitável do que uma vítima. Neste momento, ele parecia incapaz de ter dito: “[...] foram quatro homens, a quinta eu dei uma fraquejada e veio mulher”.
2. Na construção da vítima, porém, não mais a facada significa os seus argumentos, mas uma possível fraude: o palavreado da fraude. Bolsonaro percebe, como vítima, que pode perder e precisa atribuir a fraude ao processo eleitoral para ter alguma credibilidade e apoio de seus “amigos” – palavra repetida no vídeo. Antes de falar em fraude, Bolsonaro toca no “futuro”, requer a verdade de João 8:32, diz que até quem apoia o PT “é um ser humano também” e indica para uma narrativa sobre “o jogo do poder”. Pronto, uma fraude eleitoral contra a vítima pode:
a) interromper o futuro glorioso da nação; b) estabelecer contrariedade à verdade divina; c) comprometer os domínios de uma nação. Neste momento, ele parecia incapaz de ter dito: “[...] vamos fuzilar a petralhada”.
3. Ainda vitimado por um grande jogo de poder, Bolsonaro busca as estratégias necessárias para que Lula fosse interpretado novamente como grande articulador de dentro da cela para, enfim, eleger Haddad e sair por meio de indulto; então, segundo o Bolsonaro, Lula somente teria aceitado ir para a cadeia porque tinha um plano B. De fato, esses ardis funcionam bem na cabeça de pessoas que acreditam em conspirações: urnas fraudadas, governo alinhado às “ditaduras” de Cuba e Venezuela e, finalmente, Lula liberto apocaliticamente para o armagedom – a batalha, implantaria o caos e determinaria a catástrofe sobre todos os cidadãos de bem. Bolsonaro admite ter receio de perder no primeiro turno e considera a possibilidade de perder, de fato, no segundo turno em um apocalipse zumbi governado por hostes malignas. Neste momento, ele parecia incapaz – parte de um pequeno partido e vitimado pelas condições – de ter dito: “[...] Eu sou favorável à tortura, tu sabe disso”, ou, “o erro da ditadura foi torturar e não matar”.
4. Ao fim e ao cabo, Bolsonaro conta com os seus eleitores para “salvar o Brasil”. Se recorrermos à história recente do país veremos o que é “salvar o Brasil”: os ditadores propunham salvar o Brasil do comunismo, entre outros fantasmas. Temer propôs um governo de salvação nacional. Mas o que realmente ocorreu foi que Bolsonaro fez um discurso apelativo com forte apelo e inclinação para a chantagem; pela primeira vez, apareceu não apenas derrotado situacionalmente, mas desesperado com a rejeição do povo brasileiro, e, sobretudo, das mulheres. O que Bolsonaro quer? Ora, ele quer fazer antes aquilo que Aécio fez depois: questionar uma possível vitória do campo progressista que, neste momento, e pelo discurso dele, sinaliza para Haddad. Sabemos que o campo democrático, que quer democratizar a mídia, as forças armadas, o judiciário, entre outras instâncias, pode vencer... mas, para governar precisaremos de uma grande coalizão de forças cidadãs, democráticas, humanitárias. Não será tão fácil, mas resgataremos o projeto de um Brasil cidadão e justo para a construção de um país melhor e sem chantagem. Neste momento, ele parecia capaz de dizer: “[...] pela memória do Coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, o pavor de Dilma Rousseff! Pelo Exército de Caxias! Pelas nossas Forças Armadas! Por um Brasil acima de tudo e por Deus acima de todos, o meu voto é sim”. Salvação nacional é isso: eliminar o opositor na força ou na chantagem.