O general ralhou com o tribunal

A Rede Globo chutou para o lado seu pedido de desculpa pelo apoio à ditadura e vestiu novamente a farda verde oliva.

Charge de Clayton
Charge de Clayton
Escrito en POLÍTICA el
Por Laurez Cerqueira Durante os trabalhos do Congresso Constituinte, militares deram muitas declarações intimidatórias, incomodados com os debates, com a participação popular e com a elaboração da nova Constituição, sobre a qual não tinham controle. A maior preocupação deles era como ficaria a função das forças armadas na Carta Magna. Num dado momento, o general Leônidas Pires Gonçalves, ministro do Exército do governo José Sarney, ameaçou o Congresso Constituinte com a possível volta dos militares ao poder, caso a “tutela militar” não fosse incluída no novo texto constitucional. O presidente da Constituinte, Ulysses Guimarães, PMDB/SP, e o relator, Bernardo Cabral, PMDB/AM, negociaram com eles a inclusão do Artigo 142, que dá atribuição às forças armadas de “garantia da lei e da ordem”. Ou seja, por serem uma categoria de funcionários públicos armados, os militares mantém-se como um poder que subordina os poderes da República. Certamente, foi com base nesse artigo da Constituição que o general Villa Bôas, comandante do exército, se sentiu à vontade para fazer ameaça ao Supremo Tribunal Federal, às vésperas do julgamento do pedido de Habeas Corpus do ex-presidente Lula, causando imensa perplexidade ao país. Parece que o Brasil brincava de democracia e acordou ao ver Michel Temer, Eduardo Cunha e Aécio Neves (três bandidos) conspirarem e darem um golpe de estado, com a anuência do STF; um juiz de primeira instância condenar o mais importante líder da história do país, sem nenhuma prova de qualquer ilícito; o Tribunal da 4a. Região e o STF confirmarem a sentença como em linha de montagem; e, para complementar a cena, o general ralhou com o tribunal. O espetáculo teve até o procurador Deltan Dallangnol, um personagem sombrio, de olhar a meia pálpebra, que parece carregar pesados dramas psicológicos, a fazer jejum e orações pela prisão do ex-presidente Lula, logo depois da Semana Santa, quando se relembra a condenação de Jesus à tortura e à morte, por defender os pobres. Tudo isso com a participação especial da mídia oligárquica na manipulação das informações, principalmente a Rede Globo, que chutou para o lado seu pedido de desculpa pelo apoio à ditadura e vestiu novamente a farda verde oliva para novelizar a consolidação do golpe de estado. A Constituição e as leis, empilhadas sobre as mesas dos magistrados, nas sessões de julgamento, serviram apenas de enfeites. Os direitos inalienáveis do ex-presidente Lula e de qualquer cidadão estavam ali escritos na Carta Magna, no Código Penal, mas eram letras mortas. Estava tudo combinado, desde a primeira à última instância do judiciário. Por trás da retórica empolada dos magistrados havia somente a determinação política de retirar o ex-presidente Lula da disputa para a presidência da República e humilhá-lo com a prisão. Como se ele fosse um intruso na política brasileira, o inimigo público número um da classe de negociantes das nações centrais, das grandes corporações e bancos nacionais e estrangeiros. Presente nos plenários dos tribunais, o mesmo sadismo dos feitores nos açoites nos pelourinhos.
Reporte Error
Comunicar erro Encontrou um erro na matéria? Ajude-nos a melhorar