Escrito en
POLÍTICA
el
[caption id="attachment_127630" align="alignnone" width="627"] A suspeita se torna quase uma certeza quando a perícia descobre que as balas dos 13 disparos que mataram Marielle e seu motorista provêm de uma pistola 9 mm de um lote da Polícia Federal do Distrito Federal - Foto: Renan Olaz/Câmara do Rio[/caption]
Por Marcos Cesar Danhoni Neves*
Fomos surpreendidos anteontem com a execução brutal da vereadora do RJ e ativista Marielle Franco. O crime foi muito bem planejado e já se sabe não somente sobre o cenário preciso do crime, desde quando o carro da vereadora foi seguido, até a dinâmica do tiroteio que a matou e a seu motorista.
Devido às atividades políticas e sociais da vereadora na defesa intransigente dos direitos das minorias, especialmente relativos aos crimes policiais em Acari e seu posicionamento como representante do Observatório da Intervenção Militar no Rio, a suspeita “número um” recai sobre uma participação de aparatos ligados ao Estado ou às milícias, cujos membros infectaram as esferas administrativas do Rio de Janeiro e de todo o país.
A suspeita se torna quase uma certeza quando a perícia descobre que as balas dos 13 disparos que mataram Marielle e seu motorista provêm de uma pistola 9 mm de um lote da Polícia Federal do Distrito Federal. Bingo!!!
Estão agora tentando explicar este fato devido a um “roubo” de arma e munição (também original – munição UZZ-18 da empresa CBC, vendidas em 2006, NF 220-821/822).
A partir desta constatação factual necessário descobrir qual a razão deste crime de Estado. De onde partiu a ordem? As hipóteses são várias, mas podemos sintetizá-las em duas: I) ordens superiores dos protagonistas do golpe de 2016; II) de células-terroristas de ultradireita (como as do atentado no RioCentro durante o regime militar pós-64) que criaram vida própria a partir dos “ideais” dos golpistas de 2016.
As duas hipóteses levam a uma questão: “Por quê Marielle?!?”. Primeiro, Marielle era uma vereadora extremamente atuante, quinta maior votação do Rio e conhecida por ser aguerrida na luta dos desvalidos e com grande contumácia. Esta característica, em microescala, pode ser ampliada para um universo macro às grandes lideranças da esquerda brasileira e de uma, em particular: Luiz Inácio Lula da Silva. Daí nasce a terceira hipótese alicerçada no fato de algumas faixas expostas na entrada de Morros, durante o Carnaval, que estampavam mensagens como: “Se Lula for preso, o Morro vai descer”.
A mística do “Morro descer” vem de um samba que canta essa possibilidade devido à brutal exploração dos miseráveis favelizados.
A terceira hipótese é, pois: “Marielle teria sido executada para, após o desaparecimento de uma líder inconteste da esquerda (em microescala: Rio de Janeiro), atestar a quase profecia de que o Morro realmente desceria?!?”.
Pode parecer uma hipótese fantasiosa, mas sabemos que o MP (13ª Vara, de Sergio Moro) e o STF (especialmente no “comando” de Cármen Lúcia) estão extremamente receosos sobre o que pode acontecer no país após a prisão de Lula. As consequências são totalmente imprevisíveis e podem ser letais em larga escala.
No caso de Marielle, os Morros desceram e encheram as praças em cortejos imensos durante seu doloroso velório (no mundo virtual, em pouco menos de 20 horas, mais de meio milhão de tweets encheram a web). A indignação tomou a todos e isso pode ser mensurado não somente pela multidão, mas pelo esforço da Globo em tentar cooptar a população pobre na narrativa da fatalidade promovida por essa Concessionária Pública apoiadora aberta dos golpes de 1964 e 2016.
É assustador saber que o povo martirizado pelas políticas depauperantes quando perde seus líderes pode partir para a convulsão social. Estamos no orlo de uma crise político-social-econômica que ainda mal se esboça. Com o assassinato de Marielle, o atentado para o futuro pode ter criado um cenário de simulação ... O que brotará dele, após a prisão de Lula, poderá ser o que mais temem todos aqueles que usurparam o poder e escarneceram do desvalido povo brasileiro. As próximas semanas serão decisivas! Quem viver, verá!!!
*Marcos Cesar Danhoni Neves é professor titular da Universidade Estadual de Maringá e autor do livro “Lições de Escuridão”, entre outras obras