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Blairo Maggi, o agronegócio, Temer e o Porto de Santos
Por Julinho Bittencourt
Madrugada de domingo (4). O cheiro de bosta na cidade de Santos e insuportável. O odor pode ser sentido do bairro do Gonzaga, a cerca de cinco quilômetros do Cais do Valongo. Lá está ancorado por uma liminar o navio Nada, com 27 mil bois, cercados em espaço exíguo, encharcados de fezes por todos os lados.
Ativistas de todas as partes do país e do mundo se mobilizaram e mostraram a todos, através de suas filmagens e fotos em telefones celulares, o horror por que passam os animais. A despeito disto, autuada por maus tratos, a empresa Minerva Foods, responsável pela operação, também foi multada pela secretaria do meio ambiente da cidade, por irregularidades no transporte de carga viva para o Porto de Santos.
A operação gerou uma “cagada” sem precedentes que perturbou o balneário paulista com o cheiro insuportável por dias consecutivos.
No domingo (4), o ocupante da cadeira de presidente, Michel Temer, e o seu ministro da Agricultura, Blairo Maggi, resolveram apelar à Advocacia Geral da União (AGU), para que tente cancelar a liminar. O argumento é que o desembarque dos animais iria demorar dias e trazer mais transtornos.
Basta um google e um mínimo de neurônios conectados, no entanto, para chafurdar nos reais interesses do governo Temer e, sobretudo, no seu ministro Maggi, que não estão nem um pouco preocupados com o fedor em parte alguma.
Tido, havido e reconhecido como o “Rei da Soja”, envolvido até a tampa com o agronegócio, dono de extensões inimagináveis de terras no Mato Grosso e, é claro, interessado até a medula no rico negócio de exportação de carne, Maggi não mede esforços dentro e fora do governo para multiplicar a sua fortuna.
Só a título de curiosidade, Maggi é apontado como “o inimigo número 1 do meio ambiente” por entidades de proteção como o Greenpeace, que lhe concedeu o troféu Motoserra de Ouro, em 2006. Para produzir tanta soja, o ministro teria sido responsável por metade da devastação ambiental brasileira entre 2003 e 2004, segundo levantamento do Greenpeace.
Por outro lado, seu presidente é um velho conhecido do Porto de Santos. Em março de 2001, Temer já se defendia de acusações que envolviam as suas tenebrosas transações na Companhia Docas do Estado de São Paulo (CODESP), a estatal encarregada da administração do maior porto brasileiro.
O caso é intrincado e longo. Começou na década de 90 com as denúncias da namorada de um ex-presidente que Temer indicou na Codesp e segue até onde a sua mão pôde alcançar. Acusado de intermediar a liberação da construção de um terminal da JBS – do mesmo Joesley que foi prestar contas no Palácio do Jaburu sobre o cascalho com que mantinha a família de Cunha – comprado pelos irmãos Batista do Grupo Rodrimar.
Em junho de 2017, Rodrigo Mesquita, executivo da Rodrimar, investigado no reflexo da delação da JBS, afirmou que Rodrigo Rocha Loures era “um importante interlocutor” dos interesses do setor portuário quando o decreto estava sendo discutido.
Loures é o ex-deputado flagrado pela PF recebendo uma mala com R$ 500 mil na Operação Patmos, investigação baseada nas informações da delação premiada dos executivos da JBS. O mesmo que foi chefe de gabinete do então vice-presidente Temer. A PF diz que o “homem da mala” “mantinha um canal aberto de comunicação com a Presidência da República, o que lhe propiciava saber não só de ocorrências cotidianas do Palácio do Planalto, mas sobretudo e em particular, sobre a agenda presidencial”.
As conexões continuam para todos os lados. Temer esteve todos esses anos no Porto, nomeando e desnomeando os seus, fazendo e desfazendo, coisa que é óbvio, ele nega.
O Porto de Temer fede a bosta.
Foto: Reprodução/Benedito Calixto