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[caption id="attachment_144866" align="alignnone" width="700"] Foto: Reprodução/Facebook CNTE[/caption]
Por Marlon Marques*
Marc Bloch, um dos cânones recentes mais importantes para a ciência histórica contemporânea, dizia que o historiador deve interpelar o passado de forma crítica não para julgá-lo se ele foi bom ou ruim, mas para compreendê-lo. Faz algum tempo que cientistas da história de várias gerações se esforçam para entender as diferentes sociedades humanas, suas peculiaridades, suas formas de vida, seus problemas e suas realizações.
Essa dedicação produziu trabalhos respeitados pelo mundo afora, pesquisas que desvendaram horrores e belezas sobre o resultado da atuação humana no tempo. Por esse motivo a história continua sendo uma disciplina importante nos sistemas de educação mais avançados do mundo. A historiografia é capaz de confrontar-nos com outras sociedades distantes e distintas produzindo de fato uma contraposição humana entre o que já fomos e o que somos.
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É claro que historiadores não têm mais a pretensão de serem mestres da vida e nem entendem que a história humana esteja sempre em rota evolutiva. Mas a disciplina histórica continua sendo uma forma de demonstrar para aqueles que estão nos bancos escolares que não existe só uma sociedade humana, não apenas um modo de viver e de existir e de que nosso próprio modo de vida terá um fim no tempo. Sendo assim, a história tem a responsabilidade de desnaturalizar tudo.
Mas para cumprir seu papel os historiadores e os educadores precisam talvez de uma das ferramentas mais básicas que se possa reivindicar: liberdade de pensamento e de cátedra. Justamente os dois princípios que agora são duramente atacados pelo movimento “Escola sem Partido”, que mais adequadamente foi rebatizado pelos professores de “Escola com Mordaça”.
Dizem os defensores da mordaça que o professor não deve ter liberdade de cátedra porque seus alunos são ouvintes cativos e não possuem força para contestar o que é dito ou não dito pelo professor. Os censuradores de nossa época, que talvez não tenham nem sequer pisado em uma ou duas reuniões de pais, não sabem que os professores, a escola e os livros didáticos não são e nunca foram as únicas ferramentas que formam os discentes. Talvez pudessem saber se tivessem lido Paulo Freire, pedagogo no qual demonizam mesmo desconhecendo completamente.
A liberdade de cátedra permite que os professores possam escolher a melhor abordagem de um determinado conteúdo. O conteúdo a ser ministrado, por sua vez, não é elaborado pelo docente e sim pelas secretarias municipais, estaduais e pelo próprio Ministério da Educação. Portando, o que os censores querem não é modificar o conteúdo escolar, mas impedir as abordagens libertadoras, cercear o direto do professor de instigar a contradição e o debate de ideias.
Mas a agenda dos defensores da mordaça tem uma razão de existir: querem que formemos discentes alienados, serviçais do grande capital, indivíduos cuja existência se resuma ao trabalho e à pregação religiosa. Nesse projeto de educação cabe apenas a pedagogia tecnicista dos anos 70, que enquadra todos nós ao propósito do mercado. Por isso, na “Escola sem Partido” também não há espaço para a Sociologia ou a Filosofia e, claro, muito menos para a história.
*Marlon Marques é mestrando em História Social da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro e desenvolve pesquisa na área de relações de poder, trabalho e práticas culturais
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