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“Meus pais sempre falaram pra estudar para não ‘acabar como eles na roça’. Eles são tão orgulhosos. Na minha formatura e na da minha irmã foi uma alegria imensa. Momentos como uma graduação numa família de semianalfabetos é tão importante”. Isso é o que diz o advogado Ezequiel Aparecido da Silva, de 27 anos, quando questionado sobre como os pais agricultores reagem ao seu sucesso nos estudos.
De família pobre e batalhadora, ele conseguiu seguir seus sonhos com o apoio de políticas públicas promovidas quando o candidato Fernando Haddad (PT) ainda era ministro da Educação do governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “Desde que sou criança lembro dos meus pais acordando de madrugada. O mais tarde era em torno de quatro da manhã”, diz o advogado.
[caption id="attachment_143178" align="alignleft" width="225"] Ezequiel e a irmã Tânia Foto: Arquivo Pessoal[/caption]
Segundo Ezequiel, ele e os dois irmãos mais novos ajudavam os pais na roça enquanto estudavam. Mas hoje são formados: seu irmão do meio é policial militar e ele e a irmã caçula se formaram em direito pelo Mackenzie, renomada faculdade de São Paulo. Mas como isso foi possível para jovens que são da zona rural de Tanabi, no interior da capital paulista, e sempre estudaram em escola pública? Com oportunidades.
Um dos programas que a família dele fez uso foi o Bolsa Família, que começou a ser desenhado durante o governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, mas que ganhou força e foi ampliado pelo governo de Lula. A mãe de Ezequiel recebia esse dinheiro quando os três filhos ainda eram menores de idade. “Essa grana ajudava muito com material escolar e uniforme”, lembra.
Depois disso, o hoje advogado foi aprovado com ProUni (Programa Universidade para Todos), que foi promovido pelo então ministro da Educação, Fernando Haddad (PT), que hoje concorre às eleições presidenciais. “Fui aprovado em 2º lugar, considerando apenas os alunos que disputavam vaga de bolsas, no curso de Direito do Mackenzie em 2009 com bolsa integral. Vim pra São Paulo e morei com uma tia durante 3 anos, até que minha irmã também conseguiu uma bolsa integral no curso e veio morar comigo”, conta o jovem.
Ele e a irmã alugaram uma quitinete no centro e pagavam o aluguel e contas com o dinheiro do estágio dele em um escritório de advocacia e com o trabalho de vendedora da caçula. “Meus pais também sempre ajudavam como podiam. Logo depois, minha irmã também conseguiu um estágio em Direito e as coisas melhoraram. Sem os projetos sociais não teríamos saído da nossa cidade e certamente ainda estaríamos trabalhando com nossos pais na roça”, afirma.
Formado em 2014, o advogado é pós-graduado em Direito do Trabalho e atuou em dois escritórios de advocacia renomados do País: Demarest Advogados e Trench, Rossi e Watanabe Advogados. “Fiquei três anos em cada um deles e atualmente estou há um ano e três meses como advogado de relações sindicais numa multinacional de esportes francesa, a Decathlon. Aprendi muito nos escritórios de advocacia como advogado de contencioso trabalhista e hoje atuo na área sindical e consultiva da empresa”, narra Ezequiel.
Ele afirma que tem como sonho que mais pessoas pobres, da roça, do interior e da favela tenham oportunidades. Pessoalmente, ele quer aprender a falar inglês fluentemente e fazer especialização em Direito Sindical após a reforma trabalhista.
Criados com um salário mínimo
Outro jovem que veio de família de agricultores e que teve oportunidades oferecidas pelo governo do PT foi o estudante de matemática Daniel Alves, de 24 anos. “A vida inteira a minha família teve que trabalhar no campo. A única oportunidade que aparecia para eles era essa. Somos sete irmãos e a gente foi criado com um salário mínimo”, relembra o jovem que é de Ituiutaba, Minas Gerais.
[caption id="attachment_143179" align="alignright" width="300"] Daniel e seus pais Foto: Arquivo Pessoal[/caption]
Durante o ensino fundamental e médio ele já teve que começar a trabalhar e conciliava a ajuda aos pais com os estudos. “A gente achava que a universidade era uma realidade distante”, diz Daniel que passou no Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) logo que se formou na escola, mas que achava que não teria como ele pagar um estudo superior.
Ele continuou trabalhando e, no ano seguinte, buscou se informar com seus amigos “mais bem de vida” sobre o que ele poderia fazer para continuar os estudos. Foi assim que ele começou a conciliar o trabalho com os estudos de matemática na Universidade Federal de Uberlândia, que eram de noite. “Quando eu estava na metade do período, um professor falou sobre uma bolsa assistencial”, diz.
Foi aí que ele, que sempre sonhou em ser professor, ficou sabendo do Pibid (Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência), criado durante a gestão de Haddad como ministro. Pouco tempo depois, ele ficou sabendo do PET (Programa de Educação Tutorial), outra iniciativa do presidenciável. “Eu fiquei sabendo a realidade do que é ser professor”, diz o jovem que intercalou entre as bolsas até seguir para outro grande sonho.
Com seus conhecimentos, ele conseguiu ir para a Universidade de Coimbra, em Portugal, para fazer uso do Programa de Licenciaturas Internacionais. “Essa experiencia em si, de experimentar uma outra realidade educacional, foi surreal. A gente que cresce limitado, pensando que o mundo é só a cidade que a gente vive, mas a hora que você quebra esse paradigma, é surreal”, conta Daniel.
[caption id="attachment_143180" align="alignleft" width="269"] Daniel na Universidade de Coimbra Foto: Caio Jonas[/caption]
O jovem ficou um ano estudando matemática em Portugal e voltou para o Brasil há três meses. Para ele, é importante “devolver para a sociedade” o que aprendeu. Hoje ele faz parte do Programa de Residência Pedagógica, que busca atender escolas mais carentes da cidade para promover a melhora delas. Um dia, Daniel diz que sonha em um dia se tornar professor universitário. “Eu não teria acesso a essas oportunidades se não fosse por meio desses programas. Eles são fundamentais para a estabilidade educacional do Brasil”, argumenta.
O primeiro universitário da família, Daniel diz que, no início de sua jornada acadêmica, os pais ficaram com um pouco de medo das frustrações que o filho poderia passar. Porém, hoje ele é o orgulho deles. A mãe dele, por exemplo, gosta de contar para todos da cidade que ele “vai ser professor de matemática”. “Toda vez que eu sento com meu pai e mostro meus trabalhos, ele quase chora. Ele fica incrédulo me ouvindo contar as coisas”, afirma.