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Há 43 anos era assassinado pela ditadura militar o jornalista iugoslavo de origem judaica e naturalizado brasileiro, Vladimir Herzog. Vlado, como era conhecido, era diretor de telejornalismo da TV Cultura, professor de jornalismo da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP) e membro do Partido Comunista Brasileiro.
Herzog se apresentou espontaneamente às instalações do DOI-CODI, no dia 24 de outubro de 1975. O local funcionava dentro do quartel-general do II Exército, em São Paulo. Foi lá para "prestar esclarecimentos" sobre suas "ligações e atividades criminosas" e nunca saiu. No local, foi torturado e morto.
“Suicídio acontece”, diz Bolsonaro
O candidato à presidência, Jair Bolsonaro (PSL), afirmou, em julho deste ano, durante o programa "Mariana Godoy Entrevista", da RedeTV, que “querem vitimizar em cima da morte do Herzog. Lamento a morte dele. Em que circunstância foi, se foi suicídio ou se morreu torturado. Não estava lá. Suicídio acontece. O pessoal pratica suicídio. Não tínhamos nada, pelo que o Herzog fazia, para dar pancada nele”, disse.
O DOI-CODI, onde Herzog foi morto, foi comandado pelo Coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, saudado por Bolsonaro no Congresso Nacional, em abril de 2016, quando votou a favor do impeachment da presidenta deposta Dilma Rousseff, que também foi torturada no local. Na ocasião, Bolsonaro chamou Ustra de “o terror de Dilma”.
Suicidado pela ditadura
O Serviço Nacional de Informações (SNI) foi comunicado em Brasília de que naquele dia 25 de outubro: "cerca de 15h, o jornalista Vladimir Herzog suicidou-se no DOI/CODI/II Exército". O jornalista Elio Gaspari, autor da série de livros “Ditadura”, comenta que "suicídios desse tipo são possíveis, porém raros. No porão da ditadura, tornaram-se comuns, maioria até."
No laudo cadavérico expedido pela Polícia Técnica de São Paulo, Herzog se enforcara com uma tira de pano - a "cinta do macacão que o preso usava" - amarrada a uma grade a 1,63 metro de altura. Ocorre que o macacão dos prisioneiros do DOI-CODI não tinha cinto, o qual era retirado, juntamente com os cordões dos sapatos, segundo a praxe naquele órgão. No laudo, foram anexadas fotos que mostravam os pés do prisioneiro tocando o chão, com os joelhos fletidos - posição em que o enforcamento era impossível. Foi também constatada a existência de duas marcas no pescoço, típicas de estrangulamento.
Henry Sobel
Em uma atitude heroica, o rabino Henry Sobel ordenou que enterrassem Vlado no centro do Cemitério Israelita do Butantã, o que desmentia publicamente a versão oficial de suicídio. De acordo com a tradição judaica, suicidas são sepultados em local separado. "Vi o corpo de Herzog. Não havia dúvidas de que ele tinha sido torturado e assassinado", declarou na época o rabino.
O ato ecumênico pela morte de Herzog, na Catedral da Sé, em São Paulo, no dia 31 de outubro de 1975, foi a primeira grande manifestação pública contra a ditadura desde a promulgação do Ato Institucional nº 5, em dezembro de 1968. Oito mil pessoas conseguiram entrar na catedral e uma multidão ficou de fora.
Sentença Histórica
O juiz federal Márcio Moraes, em sentença histórica, em outubro de 1978, responsabilizou o governo federal pela morte de Herzog e pediu a apuração da sua autoria e das condições em que ocorrera. Entretanto nada foi feito.
O registro de óbito de Vladimir Herzog foi retificado, 24 de setembro de 2012, passando a constar que a "morte decorreu de lesões e maus-tratos sofridos em dependência do II Exército – SP (Doi-Codi)", conforme havia sido solicitado pela Comissão Nacional da Verdade. Em 2018, a Corte Interamericana de Direitos Humanos condenou o Brasil por negligência na investigação do assassinato do jornalista.