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Para ela, “os ataques seriais às artes foram ações induzidas por grupos conservadores, o MBL, a bancada evangélica, que querem se posicionar no jogo eleitoral. São incitadores da indignação alheia”
Da Redação*
Ivana Bentes é pesquisadora, ex-diretora da Escola de Comunicação da UFRJ (2006-2013), onde atua no programa de pós-graduação, se dedica a relações entre ética e estética na arte e no audiovisual e estudou com profundidade a obra de Glauber Rocha. Foi também secretária da Diversidade do Ministério da Cultura na gestão de Juca Ferreira. Nesta sexta-feira (5), a Folha Ilustrada publicou uma entrevista onde ela fala sobre o ataque às obras de arte ocorridos no primeiro semestre, William Waack, La Bête entre vários assuntos.
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Para ela, “as ações de conservadores ao atacar obras de arte não foram espontâneas. Esse tipo de obra, com nudez, sobre sexualidade, tem acontecido ao longo de anos sem maiores reações. Os ataques seriais às artes foram ações induzidas por grupos conservadores, o MBL, a bancada evangélica, que querem se posicionar no jogo eleitoral. São incitadores da indignação alheia, explorando a boa fé de quem acha que está protegendo criancinhas. Para eles é fundamental criminalizar artistas e instituições e carimbá-los associando a palavra ‘arte’ aos rótulos ‘pedofilia’ e ‘pornografia.
Para Ivana, a descontextualização das obras é a arma mais usada: “O artista que fez a performance ‘La Bête’ vira ‘o peladão do MAM’, e o fato de uma criança interagir com a performance vira ‘pedofilia’, o que incita aos piores instintos: o linchamento. Estamos em plena memética da distorção e das fake news. Outro procedimento é o enxameamento. A convocatória para todos irem às páginas do MAM, do artista e xingar, ameaçar, linchar”.
Sobre o afastamento de William Waack da Globo após o vazamento de um vídeo onde faz manifestações racistas, ela considera que o mundo atual “não permite dupla moral: uma privada e outra pública. Existe uma exigência cada vez maior para que a vida privada esteja em sintonia com o que se faz e o que se defende em público”.
Ela considera que o caso de assédio de José Mayer e o de racismo de Waack “se tornaram indefensáveis porque vivemos em uma sociedade que produziu um novo patamar para o que é ‘tolerável’, principalmente depois da Primavera das Mulheres e da constatação tardia de que, sim, somos um país racista.
Segundo Ivana, os dois comportamentos (Mayer e Waack) “não provocariam nota pública da maior emissora de TV nem demissão se fosse há dez anos. Mas o Brasil mudou, e esse processo é doloroso para os que tinham privilégios!”
Perguntada se haveria, no caso de Waack, a mesma descontextualização a que ela se referiu no caso ‘La Bête’, Ivana foi categórica: “Não temos um artista pedófilo, não houve pedofilia nem ato de violação de direitos em um caso (nem de fato nem de direito, segundo o Ministério Público), mas temos um apresentador que cometeu racismo. Ou a gente entende que são processos assimétricos, ou ficaremos achando que o país estaria mais tranquilo se não se destampasse o debate LGBT, feminista, das cotas”, disse.
*Leia a entrevista completa na Ilustrada