Aécio Neves incólume, quatro meses depois da JBS

Além da irmã e do primo (que ele, se quisesse, poderia matar) presos e da popularidade ao rés do chão, pouco ou quase nada de prático aconteceu ao senador tucano até agora.

Aécio Neves Foto: Wilson Dias/Agência Brasil
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Além da irmã e do primo (que ele, se quisesse, poderia matar) presos e da popularidade ao rés do chão, pouco ou quase nada de prático aconteceu ao senador tucano até agora. Por Julinho Bittencourt* Neste domingo faz quatro meses que explodiu a delação da JBS que envolvia, além do presidente Michel Temer, o senador e candidato derrotado à presidência em 2014, Aécio Neves (PSDB-MG). O que, num primeiro momento, parecia ser o fim inglório de uma promissora carreira política, com todas as chances de encarceramento, cassação e expulsão do seu partido, chega até aqui com nada, ou quase nada de efetivo concluído apesar de uma extensa ficha corrida de processos. Aécio, gravado pedindo R$ 2 milhões a Joesley Batista, dono da JBS, chegou a ter impedidas as suas funções parlamentares, mas retornou em julho, após ter o seu afastamento revertido pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Marco Aurélio Mello. O áudio mostra claramente, a ponto do próprio não negar que era ele mesmo, num linguajar de bandidos e conversas estarrecedoras. Muito distante do menino prodígio da família Neves, Aécio naquele momento jogava na lama o nome da família, a imagem distinta e serena de sua vó Risoleta e, sobretudo, o legado de seu avô, Tancredo Neves. Imunidade Parlamentar pra que te quero E, por falar na família, a operadora e irmã, Andrea Neves, por não ter a mesma imunidade parlamentar de Aécio, acabou em cana, no Complexo Penitenciário Feminino Estevão Pinto, em Belo Horizonte. Hoje, cumpre prisão domiciliar, com direito a tornozeleira, pois ninguém é de ferro. No mesmo dia em que prendeu Andrea, a PF guardou também Frederico Pacheco de Madeira, o primo que o senador escolheu para pegar as remessas de dinheiro da JBS. Aquele mesmo que, nos grampos, Aécio disse que poderia matar, se fosse o caso. Fred é ex-diretor da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) e foi um dos coordenadores da campanha do tucano à Presidência em 2014 e também está em casa de tornozeleira. Inquéritos e mais inquéritos Já o mineirinho, até agora aguarda que o Supremo Tribunal Federal (STF) decida por um pedido de prisão pendente, feito pela Procuradoria-Geral da República (PGR). Ao todo, Aécio responde a nove inquéritos na Corte, mas segue incólume. No STF, três dos nove procedimentos contra Aécio estão nas mãos do ministro Gilmar Mendes. Em abril deste ano, os dois tiveram uma conversa no telefone gravada pela Polícia Federal em que o senador pedia apoio ao magistrado para um projeto em tramitação no Congresso. Nada demais, porém, para um ministro que não se sente impedido de julgar processos de um empresário de ônibus do qual foi padrinho de casamento da filha. Um dos inquéritos que caíram no colo de Gilmar Mendes é o 4444, que investiga Aécio por suposto recebimento de dinheiro ilegal da Odebrecht para sua derrotada campanha presidencial de 2014. O magistrado é também relator do inquérito 4244, que apura a participação do senador num suposto esquema de propina em Furnas, e do 4246, que averigua suposta atuação do parlamentar para maquiar dados da CPI dos Correios a fim de embaraçar a apuração do caso conhecido como “mensalão do PSDB“. O caso mais emblemático, no entanto, é o que envolve a gravação, feita por Joesley Batista, em que Aécio pede R$ 2 milhões. Com a relatoria do ministro Marco Aurélio Mello, o STF abriu o inquérito 4506. Os crimes investigados são corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Ladeira abaixo Com toda essa história, a popularidade de Aécio despencou de maneira vertiginosa, como há muito não se via na política brasileira. Pesquisa do Instituto Vox Populi revelou que o tucano baixou de 9% para mísero 1% de intenções de voto numa eventual candidatura à presidência. Além disso, o Instituto Paraná Pesquisas realizou levantamento onde 63,7% dos brasileiros querem Aécio na cadeia. No final de agosto, o Instituto Ipsos fez pesquisa onde Aécio aparece rejeitado por nada menos do que 91% da população brasileira, perdendo apenas para Temer que, quase como unanimidade, é rejeitado por 93% dos brasileiros. O fim político de Aécio Neves, ao que tudo indica, parece mesmo ter chegado. No entanto, sempre tem o caso Fernando Collor de Mello, seu colega de parlamento e reeleito depois de impichado, para nos desmentir. Resta a nós todos, brasileiros incautos e incrédulos, esperar pela justiça. E é sempre bom lembrar que, com muito menos provas, evidências e indícios, vários outros políticos e empresários foram condenados e presos. *Com informações do The Intercept Brasil e da Revista Fórum Foto: Wilson Dias/Agência Brasil/Fotos Públicas