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Em seis meses de governo, Doria pouco ou nada fez além de espalhar a poeira, esconder a sujeira e, sobretudo, espantar para longe aqueles que mais precisam de sua atuação. Relembre aqui por onde andou a sua vassoura, cassetetes e balas, nesta primeira fase de sua administração.
Por Julinho Bittencourt
Doria não resolve problemas. Manda limpar, lavar, cortar, demolir e, sobretudo, transferir de lugar. É um higienista. Foi assim desde o primeiro dia, quando se fantasiou de gari, com uniforme ajustado por alfaiate, e foi varrer as ruas de São Paulo, recriando a simbologia de Jânio, um dos últimos grandes embustes que passaram pela cadeira que agora ocupa.
Logo após, no mesmo dia, foi varrer moradores de rua na Mooca. Mandou arrancar seus cobertores, roupas, mantas e “liberou” o Parque da Mooca.
Depois de varrer as ruas e seus moradores, Doria foi pintar muros. Em outra campanha canhestra, jogou tinta cinza sobre os grafites da 23 de maio. Quem conhece e gosta de Sampa sabe da simbologia desses painéis, o quanto exalam da diversidade e irreverência da cidade. Qual nada. O próprio, em pessoa, lascou tinta cinza em cima das obras.
Diante de tamanha reação negativa, o prefeito disse ter se arrependido. Já era tarde. A atitude arbitrária havia feito escola. Moradores do Beco do Batman, na Vila Madalena, às próprias expensas, se muniram de tintas e rolos e jogaram tinta cinza naquele que era um dos pontos turísticos da cidade.
A sanha higienista chegou ao seu auge no mês de maio quando, em parceira com o governador Geraldo Alckmin, o prefeito entra com 500 policiais na região conhecida como Cracolândia disparando bombas, spray de pimenta e balas de borracha contra os moradores de rua e usuários de droga. Ao final da operação, o prefeito declarou: “A Cracolândia acabou”. Poucos dias depois, no entanto, usuários e traficantes estavam instalados calmamente a 500 metros do local de origem, na Praça Princesa Isabel.
Além de enxotar os frequentadores da Cracolândia para pouco mais adiante, num lance lamentável e talvez nunca visto antes, Doria mandou demolir casas ocupadas da região, deixando três pessoas feridas. Gritarias, ambulância e mais pedidos de desculpa. Tudo bem, a despeito de alguns feridos, o mais importante, ou seja, a limpeza, estava feito.
A ação toda rendeu a Doria ainda a demissão da sua secretária de Direitos Humanos, Patrícia Bezerra, que saiu bufando e chamando a operação de “um desastre”.
Até então, e por mais incrível que pareça, o prefeito figurava entre presidenciáveis preferidos para 2018. Seu castelo de cartas, no entanto, começou a desmoronar muito antes do combinado, de acordo com pesquisa do Instituto Ipsos realizada entre maio e junho. A sua rejeição saltou de 39% para 52% de um mês para o outro, graças à desastrada ação na Cracolândia.
Mas o melhor (ou pior), ao que tudo indica, ainda está por vir. Em operação na Favela do Moinho, local tido como base de traficantes que fornecem para a Cracolândia, policiais militares foram acusados de torturar e matar o jovem Leandro de Souza Santos, de 19 anos. Não contente, nesta terça-feira (4), uma semana depois do ocorrido, Doria anuncia que vai remover a favela do Moinho, com o objetivo de combater o tráfico de drogas na região. Bastante atenção para isto: Para combater o tráfico de uma região, Doria varre a sua população para fora.
Ao rever estes últimos seis meses, a cidade de São Paulo parece ter sido tratada a desinfetante, vassourão, cassetete e bala. Doria tira os problemas da frente dos olhos e, além de não resolver nenhum deles, maquia o que pode, afasta o que dá e tenta esconder o que sobra. Todos, no entanto, sem exceção, começam a voltar em refluxo pelos poros finos de sua cashmere, numa fedentina indisfarçável de engodo, que a população, tardiamente, começa a se dar conta. Nunca é tarde.