Escrito en
POLÍTICA
el
Uma discussão entre vereadores paralisou a sessão plenária desta quarta-feira (19), na Câmara de Vereadores de Porto Alegre, por um motivo inusitado. A vereadora suplente do PSOL Karen Santos tinha acabado de falar na tribuna, em seu discurso de posse, quando o vereador Valter Nagelstein (PMDB), que presidia a sessão, chamou a atenção dela por estar usando uma camiseta do ativista norte-americano Malcolm X. Nagelstein reclamou que “ela não estava cumprindo o regimento da Casa”, que exigia “traje esporte” para homens e mulheres.
Do Sul 21
Vereadora fez discurso de posse na tribuna vestindo camiseta do ativista Malcolm X | Foto: Elson Sempé Pedroso/CMPA
“Aqui ainda há democracia (…) a democracia que impõe aos vereadores um traje. Se a igualdade vale, eu acredito nisso, ela vale para todos nós. Se vale camiseta, vereadora Sofia [Cavedon, PT], para as mulheres, também vale camiseta para os homens”, disse ele ao microfone.
O comentário do peemedebista gerou reação da bancada do PSOL. Karen, que assumiu mandato por três dias durante licença-saúde da vereadora Fernanda Melchionna, reclamou que o vereador estava gastando tempo da plenária para “fazer showzinho”. “Realmente é triste ver o que acontece dentro da Câmara dos Vereadores. É não colocar o povo para dentro. Não colocar mulher, não colocar trabalhador, não colocar a juventude negra”, reclamou ela.
“Ficou um ataque ideológico por ser uma camiseta do Malcolm X”, disse a vereadora por telefone ao Sul21. Karen conta que recebeu apoio de outros vereadores, que notaram que nem todos os parlamentares homens estavam trajados de acordo com o regimento e nem por isso receberam atenção de Nagelstein. “Tu vai para um espaço desses imaginando que vai discutir projetos políticos e é constrangida pelo presidente da casa por tua vestimenta. Foi uma tentativa de desgastar, uma forma desrespeitosa de dar boas vindas à Casa”.
Colega de partido da vereadora, o professor Alex Fraga usou seu tempo de tribuna para criticar a postura de Nagelstein. Segundo Alex, não há nenhum quesito no regimento da Câmara sobre trajes femininos. “Portanto, é totalmente dispensável o seu comentário a respeito do traje da vereadora Karen”, disse ele se dirigindo à Mesa e ao parlamentar. “O senhor usa o termo democracia de forma completamente equivocada. A camiseta que a vereadora estava utilizando na tribuna faz referência a um personagem histórico de suma importância na luta por direitos humanos, na luta pela valorização da vida e da igualdade em todos os sentidos. O que desqualifica ainda mais sua posição”.
Em 2014, Nagelstein já havia reclamado de uma camiseta usada pela vereadora Fernanda Melchionna na tribuna, que trazia a frase “Viva a Resistência Palestina”. Na época, o argumento do vereador foi o mesmo, que o traje da vereadora não cumpria requisitos do Parlamento. Em 2009, Fernanda também enfrentou na mesma tribuna projeto de lei do então vereador Nelcir Tessaro (PSD) que pretendia criar regras para as roupas das vereadoras. Tessaro retirou a proposta depois da repercussão.
Foto: Elson Sempé Pedroso/CMPA