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Ao menos 27 pessoas morreram nas marginais neste ano até outubro -em 2016, foram 26 em todo o ano
Da Redação*
Para o prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), não são necessários estudos aprofundados por parte da prefeitura para que ela possa afirmar não haver ligação entre o aumento da velocidade máxima nas marginais Tietê e Pinheiros e casos de mortes nessas vias.
Segundo reportagem publicada neste domingo pela Folha, não é possível, com base nas informações disponíveis, descartar a influência do aumento das velocidades nas marginais. Isso porque para descobrir as causas de alguns dos acidentes são necessárias investigações da polícia e análise da perícia. A prefeitura descarta essa correlação sem apresentar dados.
De acordo com levantamento feito pela Folha, ao menos 27 pessoas morreram nas marginais neste ano até outubro -em 2016, foram 26 em todo o ano.
Doria disse que a prefeitura se esforça para "monitorar, sinalizar, orientar motoristas, pedestres, motociclistas", mas que os dados indicam que nenhuma das mortes ocorridas nas marginais analisadas pela reportagem está ligada ao aumento da velocidade.
"Foram por outras causas: uso de celular enquanto se dirigia, consumo de álcool. Ou seja, pessoas alcoolizadas e imprudência, absoluta imprudência."
O prefeito afirmou, porém, que não há um estudo sobre isso, mas os fatos falam por si. "Não são estudos [que permitem afirmar], são estatísticas. São fatos. Não é preciso nem estudar. Basta analisar as informações para se ter essa certeza."
A base de dados de Doria seria a CET. "Ela registra todas as ocorrências e avalia, evidentemente, todas elas. Não temos nenhuma ocorrência por excesso de velocidade."
As informações do prefeito foram dadas ao lado do secretário de Transportes Sérgio Avelleda e, também, do presidente da CET, João Octaviano Machado Neto.
O secretário, instado pelo prefeito a falar sobre o assunto, disse que a reportagem omitiu informação sobre um dos principais acidentes ocorrido no período.
"Os números que nós temos das marginais apontam para uma estabilidade, e os acidentes que nós tivemos estão ligados diretamente à imprudência. A matéria da Folha de hoje deixou de informar que um único atropelamento a cerca de um mês atrás matou três pessoas por causa do uso do álcool e do celular pela condutora", disse ele, em referência ao caso da motorista Talita Sayuri Tamashiro, 28, que, em setembro, atropelou e matou três pessoas na marginal Tietê.
Ao contrário do que disse Avelleda, a reportagem deste domingo não apenas lembrou desse caso como contou a história das três pessoas mortas pela motorista embriagada.
AUMENTO
No meio do ano, Doria chegou a dizer que as mortes acompanhavam um aumento, segundo ele, de 15% no fluxo de veículos nas principais vias. Dados que a CET não tem.
Questionado sobre isso, o prefeito afirmou que esses dados vêm da impressão dele.
"Há um sentimento de que o movimento cresceu. Qual a razão? A economia está apresentando melhoras desde o último mês de setembro. O desemprego começou a estancar. E muitas pessoas que tinham automóvel nas suas casas e que não usavam seus automóveis voltaram a usar seus carros ainda de que maneira comedida. Obviamente, a melhora da economia proporciona a volta de veículos que não estavam circulando."
Ele também afirmou que houve aumento nas vendas de veículos, o que também deve ter influenciado. Por tudo isso, o prefeito considera injusto atribuir culpa à prefeitura pelas mortes no trânsito.
"Eu quero ressaltar aqui à Folha que, lamentavelmente, acidentes acontecem no mundo inteiro. Não é um privilégio de São Paulo ter pessoas mortas e feridas no trânsito e nem é justo você culpar a Prefeitura de São Paulo. É só o que faltava também o jornal, ou quem manuseia informação, achar que a culpa disso é da prefeitura", afirmou ele.
As críticas foram feitas após a reportagem perguntar ao prefeito o que ele poderia dizer às famílias de pessoas que perderam vidas nas marginais neste ano, ainda que ele não admita haver ligação entre o aumento de velocidade e aumento de mortes.
"Além de lamentar, a nossa solidariedade. É muito triste qualquer morte, em qualquer circunstância. Isso é muito triste, mas é parte da vida."
*Com informações da Folha