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Ex-presidente criticou cortes no orçamento promovidos por Temer no encerramento de seminário em defesa das universidades e escolas públicas, realizado em Brasília
Por RBA
“A hora que você passa a ideia de que investir em educação prejudica o orçamento do país, você abdica de construir uma nação. Pode construir um monte de gente, mas não uma nação que pressupõe soberania”, afirmou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante o encerramento do Seminário de Educação Pública: Desenvolvimento e Soberania Nacional, realizado na tarde de hoje (9), em Brasília. O evento foi organizado pelas bancadas do PT no Senado e na Câmara, além da Fundação Perseu Abramo (FPA) e da Comissão de Assuntos Educacionais do PT.
Lula teceu críticas às políticas direcionadas para a educação conduzidas pelos governos neoliberais de Michel Temer (PMDB) e de Fernando Henrique Cardoso (PSDB). “O que permeia a cabeça da elite brasileira é que universidade e educação são coisas para gente fina, para pessoas que moram na casa grande. Na senzala, eles têm que trabalhar, comer mal e viver mal. Só a elite pode estudar. É a única explicação para nunca terem feito universidades em cidades como Osasco, Guarulhos, Santos e no ABC”, disse sobre os campi de universidades federais criadas durante seu governo.
“A universidade, que sempre foi tratada como gasto pela elite, passou a ser, em nosso governo, lugar de sonhos. Passamos a perceber que as pessoas entendiam a universidade como fábrica de conhecimento que gera mais oportunidades e empregos do que fábricas (…) Esse país tratava tão mal a educação que, quando aprovamos um piso salarial de R$ 950 para professores, mais de nove governadores não aplicaram na época”, disse lula.
O ex-presidente citou outros exemplos aonde são necessários investimentos para construir uma nação soberana. “Não é apenas na educação. Quando cheguei à presidência, o soldado do Exército era liberado as 11h, porque não tinha dinheiro para a comida. Os soldados eram liberados porque não tinha almoço. Imagina se o Paraguai soubesse disso. Teriam invadido o Brasil depois do almoço”, ironizou.
“Tenho orgulho de ter cumprido o investimento de R$ 41 bilhões na Ciência e Tecnologia. Acreditávamos que este era o caminho para um país que sonhávamos. Não basta ter riqueza, esse país tem que ter vergonha na cara e se respeitar. É disso que esse país precisa. Quando a elite fica quatro anos em Paris estudando isso é investimento. Quando criamos o Ciências sem Fronteiras era gasto”, disse.
Soberania e entreguismo
Lula defendeu que o Brasil precisa se desenvolver de forma autodeterminada. “A turma dos golpistas está feliz dizendo que está entrando investimento estrangeiro no país. É mentira. O que está vindo para o Brasil é dinheiro para comprar ativos prontos. Nós gastamos muito para produzir e eles estão entregando de graça. É o desmonte na Petrobras, na Lei da Partilha, no passaporte para o futuro que era o pré-sal. Estão rasgando esse passaporte”, disse.
“Quando fui candidato em 1989 e 1994 tinha que viajar o mundo para conversar com representantes do setor financeiro. Jovens bem vestidos e bonitos que não paravam de criticar a Bolívia. E quando houve a crise de 2008 nenhum deles teve coragem de abrir a boca para falar como consertar a economia. Eles que quebraram a economia vendendo papel e comprando papel sem produzir um parafuso; essa gente que agora conversa com o Bolsonao (deputado Jair Bolsonaro – PSC-RJ)”, disse sobre recente visita do parlamentar aos Estados Unidos.
“Li uma notícia na Folha (Folha de S.Paulo) que diz que declarações de Bolsonaro agradaram o mercado. Vou dizer que se o Bolsonaro agrada o mercado nós temos que desagradar. Não é possível. A economia brasileira não vai mais ficar subordinada a setores rentistas, vamos ter que nos focar em produção. Se querem ganhar dinheiro, que vão trabalhar, produzir, colher e vender”, completou o ex-presidente.
Números
Por fim, Lula afirmou ter orgulho do que o PT fez para o país, mas que ainda considera pouco. “Quero dizer para os letrados que governaram esse país: sintam vergonha. Um torneiro mecânico pensou mais em educação do que vocês. Temos que defender nosso legado porque tem muita gente de fora da educação que não sabe o que foi feito nesse país. Temos que contar. Vi muita gente falando que estava na universidade e que não devia nada ao PT. É verdade, não devem mesmo, devem apenas aos seus sacrifícios. Mas por que não tiveram sacrifícios quando o FHC era presidente? Por que não tinham oportunidades”, disse.
A fala anterior à de Lula foi do ex-ministro da Educação e ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad. Ele trouxe números que deram sustentação para a fala de Lula. “O que aconteceu na Educação foi o começo de uma revolução. Começamos fortes e determinados e sem um foco para deixar uma marca. O Lula não deixou uma marca, deixou 30 e isso não é modo de falar”, disse.
“Dobramos vagas nas universidades federais e também dobramos o número de cidades atendidas. Eram 114 cidades e hoje são mais de 230. Demos passos largos para sermos uma potência regional de produção de conhecimento. Podemos também lembrar dos mais de 2 milhões de bolsas do Prouni. Isso é 1% da população que foi atingida por um único programa. O dobro disso foi atingido pelo Fies. Temer está cortando tudo isso. Espero que esse pesadelo chamado Temer acabe e que Lula recoloque o Brasil na linha de desenvolvimento”, disse.
Haddad completou ao sentenciar o fato de que a educação é um setor primordial para o desenvolvimento de uma nação. “Educação, junto com Ciência, Tecnologia e Cultura são áreas que dialogam com o futuro de um país. Um governo progressista da atenção para o futuro, olha para frente. Quem não cuida dessas áreas olham para outros lugares, são regressivos. E Temer está afundando essas três áreas. Áreas do futuro que dialogam com a juventude.”
Outro nome do PT que trouxe dados foi o senador Lindbergh Farias (PT-RJ), que teceu duras críticas à Emenda Constitucional 55, de autoria da base de Temer, que congela investimentos em áreas como educação e saúde por 20 anos. “A primeira medida do futuro governo Lula tem que ser convocar um referendo revogatório para anular essa emenda profundamente antidemocrática. Então, um candidato vai para as eleições sem poder aumentar recursos para a educação?”, disse.
“Lula pode e vai incendiar a juventude brasileira falando das universidades públicas. A política de Temer para os jovens é cortar na educação e aumentar o encarceramento com a redução da maioridade penal. O Lula vai fazer diferente. Ele já fez. Lula e Dilma fizeram 173 campi de universidades. Se fizer na mesma proporção, serão 60 campi em apenas um mandato”, completou o parlamentar.