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Lula lembrou também que espera poder se candidatar, mas que ninguém é insubstituível. “Existem milhares de Lulas”
Da Redação*
O ex-Presidente Lula deu entrevista ao jornal El Mundo, o segundo maior da Espanha. O periódico lembra que Lula foi chamado por Obama de "presidente mais popular do planeta", e que pesa sobre ele um passado de glórias, um presente de acusações e um futuro com dois objetivos: governar novamente e provar sua inocência.
Sobre como deverá ser um novo mandato seu, Lula disse que o Brasil deve ser governado novamente com a maioria em mente. “A primeira coisa que eu pretendo fazer é um referendo de revogação sobre muitas das medidas aprovadas por Michel Temer. É criminoso ter uma lei que limite a possibilidade de investimento do Estado por 20 anos. No Brasil ainda faltam coisas básicas como saneamento, tratamento de água e habitação. Temos um potencial de investimento em infraestrutura que pode resolver grande parte da geração de emprego e recuperar a economia. O Brasil não depende dos EUA ou da China, mas de suas próprias decisões. Quando os pobres retornarem ao orçamento do Estado, o país vai crescer novamente e recuperar a confiança internacional. O capital é covarde e só vem quando sabe que pode ganhar”, alertou.
De acordo com o jornal, quando Lula deixou a presidência, em 2010, o Brasil estava em pleno crescimento, 32 milhões de pessoas pobres subiram em aula, a Petrobras era um dos motores econômicos. O que aconteceu para o país virar em 180 graus? Lula respondeu: “jogamos fora a palavra mágica: credibilidade. Um conceito válido para a família, para o bairro, para o time de futebol. Quando o governante fala e as pessoas não acreditam nele, as coisas não acontecem”.
Sobre as manifestações de 2013, Lula diz que não sabe ainda como interpretar o que aconteceu. “Naquele momento, a presidente Dilma tinha uma popularidade de 75%. As coisas escaparam do controle. As televisões chamaram as manifestações, chegaram a cancelar uma novela para dar a cobertura das pessoas na rua. Ao longo da história das mobilizações no Brasil, a mídia nunca se comportou dessa maneira”, disse.
Já a respeito do governo Dilma, Lula reconheceu os erros. “Nosso maior erro foi exagerar as políticas de exoneração de grandes empresas. O Estado parou de arrecadar para entregar aos empresários e em, 2014, foi gasto mais dinheiro do que entrou. Entre 2011 e 2014, 428 bilhões de reais (114 bilhões de euros) foram exonerados e quando Dilma tentou acabar com este auxílio, o Senado não permitiu. O segundo erro ocorreu quando a presidente anunciou o ajuste fiscal e o eleitorado que a elegeu em 2014 se sentiu traído, ao qual prometemos manter as despesas. Dessa forma, começamos a perder credibilidade. O ano de 2015 foi muito semelhante ao de 1999, quando Fernando Henrique Cardoso teve uma popularidade de 8% e o país quebrou três vezes. Mas naquela ocasião, o presidente da Câmara foi Michel Temer e ele o ajudou a governar. Nós tivemos Eduardo Cunha, que foi encarregado de rejeitar todas as reformas propostas por Dilma. Foi ele quem produziu um impeachment ilegítimo. Nós tínhamos o inimigo em casa”, lembrou.
Perguntado se se arrependeu de ter sido candidato em 2014, Lula se disse leal à democracia e à Dilma Rousseff. “Ela era a Presidente e tinha o direito de ser reeleita. Mas eu pensei nisso muitas vezes e eu sei que Dilma também. O que acontece é que eu não sou o tipo de pessoa que se arrepende, temos que esperar e quero ser presidente novamente para mostrar ao mundo que o Brasil pode trabalhar”, disse.
Ao final, Lula lembrou que, muito mais do que uma pessoa, ele é uma ideia. “A ideia de que os pobres podem ter acesso a um bom trabalho, a um salário digno e à universidade. Eu sempre digo que o melhor efeito do meu governo não foram as obras que fiz, mas ter feito as pessoas perceberem que podem ser sujeitos da história. Perguntado se, caso for condenado em segunda instância e não pudesse se candidatar se o PT tem chances nas eleições de 2018, Lula lembrou que espera poder se candidatar, mas que ninguém é insubstituível. “Existem milhares de Lulas”, concluiu.
*Com informações do jornal espanhol El Mundo. Leia a entrevista completa aqui.